Os moradores das comunidades de Bananeiras, Cipó, Lagoa dos Cavalos, Barbatão, Sussuarana, Lagoa do Peixe, Santa Terezinha - localizadas no município de Russas, no Ceará, a 165 quilômetros de Fortaleza - pedem o apoio da sociedade contra a ameaça de desapropriação que estão sofrendo, para a construção da segunda etapa do Projeto de Irrigação do Tabuleiro de Russas.
Com as desapropriações, mais de 760 famílias podem ficar sem suas terras, de onde tiram o sustento para viver, através da agricultura de sequeiro e criação de pequenos animais. As sete comunidades têm infra-estrutura de acesso água para consumo familiar, conseguido pelo Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC) e se sustentam.
A obra, que prevê investimentos da ordem de R$ 84 milhões e deve afetar uma área de 4.225 hectares, será realizada pelo Departamento Nacional de Obras Contra Secas (DNOSCS), com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo os moradores, o DNOCS não os trata como sujeitos, e sim como um empecilho que deve ser afastado para dar lugar aos projetos.
O próprio governo federal, idealizador do PAC, investiu, recentemente, recursos na construção de uma casa de mel modelo na comunidade através da SENAES. Mas, agora, quer tirar a terra dos agricultores para dar lugar a projetos do agronegócio, como o Projeto de irrigação do Tabuleiro de Russas.
Na comunidade de Lagoa dos Cavalos, há uma série de iniciativas de convivência com o semi-árido, como: Cisternas de placas, barragem subterrânea, sistema agrossilvopastoril, casa de sementes, apicultura, silagem, fenação, reflorestamento através da mata nativa, casa de farinha, criação de pequenos animais, quintais agroecológicos.
No projeto de irrigação do Tabuleiro de Russas, haverá a captação da água do rio Banabuiú, com canais (32 km), sistema viário (113 km) e urbanização de núcleo habitacional, além de todos os serviços complementares. O projeto final terá área irrigada de 10.666 ha (em andamento).
O Departamento quer tirar as famílias para dar lugar às máquinas das empreiteiras, mas muitas famílias foram desapropriadas durante a primeira etapa do projeto - e, hoje, elas vivem precariamente na periferia de Russas ou em outros lugares -, mas não está sendo cultivado nem 20% da terra que foi desapropriada nessa etapa do projeto.
"Exigimos o nosso direito de viver nesta terra que faz parte de nós mesmos. Enquanto não estiver sendo aproveitado pelo menos 90% das terras da Primeira Etapa do Projeto não sairemos daqui. Não tem nenhum sentido ter um monte de terra abandonada da Primeira Etapa do Projeto e agora querer nos expulsar para ficar a terra também abandonada", disseram os moradores, em carta.
(Adital, 14/05/2008)