Historicamente, a agricultura tem sido o sustentáculo de todos os planos econômicos que este país já vivenciou, e esta não é uma característica apenas do Brasil. Em quase todos os países do planeta, a preocupação de todos os governos é fornecer alimentação barata para a população. A diferença é que os países ricos subsidiam e mantêm a renda para os seus agricultores e, independente de haver sucesso no processo de produção, a rentabilidade estará garantida.
No caso do Brasil, os agricultores arcam com todos os riscos e qualquer frustração de safra é assumida na integralidade pelos próprios agricultores, já que as parcas políticas de proteção, como o Proagro e Seguro Agrícola, quando cobrem, ressarcem apenas as despesas bancárias. Os agricultores arcam, então, com os demais custos, o que resulta, muitas vezes, em descapitalização, a fim de que os compromissos sejam honrados.
Um dos maiores problemas enfrentados pelo conjunto dos agricultores refere-se à instabilidade na política de preços que apresenta enormes distorções num mesmo ano e no comparativo entre as safras. Pode-se tomar como exemplo o preço da soja, que na safra passada foi comercializada pelo preço médio de R$ 26,00/saca, nesta custa R$ 43,00/saca e há alguns anos ultrapassou os R$ 50,00. Isso demonstra a enorme dificuldade de se planejar a agricultura.
Como se não bastasse essa instabilidade, quando comparamos a evolução dos preços médios pagos desde o início do Plano Real, em julho de 1994, até março de 2008, contatamos que, mesmo com o aumento de preços verificado nos últimos meses, a evolução de todos os produtos agrícolas fica muito aquém da inflação, que foi de 278% no período, enquanto os preços variaram em média 213,5%, ou seja, muito abaixo da inflação.
Por sua vez, os preços dos insumos não são passíveis de variações. Ao contrário, estão em constante elevação e, quando comparados com a inflação, apresentam uma grande elevação: o adubo, neste período, teve aumento de 495,24%, as colheitadeiras 304,56%, os tratores 324,86% e o óleo diesel 402,63%.
Mesmo assim, a agricultura brasileira vem dando resultados positivos ano após ano. De 1994 a 2008, a produção brasileira saltou de 73,5 milhões de toneladas para 140 milhões de toneladas, enquanto o Rio Grande do Sul passou de 17,58 milhões de toneladas para 24 milhões de toneladas. Este esforço precisa ser reconhecido e valorizado, especialmente o dos produtores de alimentos que concentram-se na agricultura familiar.
É hora, sim, dos alimentos subirem de preço, pelo menos até atingirem os patamares da inflação. É hora, sim, dos agricultores serem melhor remunerados e conseguirem uma condição de vida melhor no campo, sob risco de termos um esvaziamento de agricultores familiares no meio rural, em especial dos jovens.
Agora, de nada adianta termos bons preços se o setor fornecedor dos insumos para produção aumenta seus preços de forma criminosa e, sem nenhuma vergonha na cara, se apropria da tão sonhada recuperação de renda dos agricultores. É preciso dar um basta, nem que para isso tenhamos que copiar a atitude dos produtores argentinos e parar este Brasil, de Norte a Sul.
(Por Heitor Schuch*,
Assembléia Legislativa RS, 14/05/2008)
* Deputado Estadual pelo PSB