O trevo da BR-392, no Simões Lopes, foi interrompido na manhã de ontem (14) das 9h45min às 12h30min por 500 pequenos agricultores, representantes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetrafsul) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em protesto aos problemas que o homem do campo enfrenta como o aumento dos insumos. Os manifestantes também lutam pela criação de um Programa de Produção de Alimentos (PAC- Alimentos). O congestionamento de veículos no sentido Rio Grande-Pelotas chegou a cinco quilômetros e Pelotas-Rio Grande quatro quilômetros. A Polícia Rodoviária Federal e a Brigada Militar acompanharam o protesto.
Novo bloqueio e caminhada
Agricultores e líderes da Fetrafsul voltaram a bloquear a estrada às 12h30min e às 13h, e saíram em caminhada até a agência do Banco do Brasil, na Lobo da Costa. “Fizemos a entrega do documento com as principais reivindicações dos trabalhadores como a criação do PAC Alimentos, tendo como base produtiva a agricultura familiar. O programa terá como prioridade as culturas de milho, trigo, arroz, feijão, mandioca, tubérculos, hortifrutigrangeiros e leite, destinados prioritariamente ao mercado interno”, destacou o diretor da Fetrafsul, Flávio Zampieri.
Para o agricultor Ismar Kunde, 48 anos, com os valores atuais dos insumos torna-se inviável cuidar dos poucos hectares em que planta batata, milho e feijão. “Se o governo não tomar alguma providência será que teremos que abandonar o campo e nos tornarmos papeleiros?”, disse o agricultor.
Os agricultores também realizaram manifestação em Porto Alegre, protestando na entrada da empresa de fertilizantes Yara, antiga Adubos Trevo. Após desocuparem a área foram recebidos no Palácio Piratini, pelo chefe de gabinete da governadora, João Carlos Breda. Eles entregaram um documento denunciando o elevado custo dos insumos agrícolas praticado pelo mercado e pediram apoio do Governo.
Comissão de agricultura
O País importa 69% dos produtos utilizados na lavoura e em 1990 o volume era de 34%. Mesmo com a cotação do dólar em queda, os altos custos de importação fazem com que o produtor pague a conta. Em Brasília, grupo da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados estuda medidas para conter o aumento do preço dos fertilizantes e as estratégias incluem a redução deste volume importado e ampliação da produção nacional de adubo.
Terça-feira o grupo se reuniu com técnicos do Ministério da Agricultura, representantes do setor agropecuário e de misturadores de fertilizantes. O deputado federal Luís Carlos Heinze (PP-RS), sub-relator da Proposta de Fiscalização e Controle - PFC 15/2007, que prevê a fiscalização no mercado dos insumos agrícolas, destacou entre as preocupações, a concentração da produção da matéria-prima no poder de poucas empresas. “Mais de 120 misturadoras e importadoras são registradas no Ministério da Agricultura. Desse total, menos de dez comandam o mercado produtivo e a comercialização de fertilizantes no Brasil”, destaca.
Para regular esse cenário e reduzir os custos dos produtos vendidos aos agricultores, o grupo que conta com o apoio das pastas da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário e de entidades representativas do produtores, trabalha na elaboração de política específica para regular o mercado, ampliar a produção brasileira e diminuir os impostos nas importações de adubos.
Na próxima semana ocorre reunião com técnicos do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão ligado ao Ministério de Minas e Energia, para discutir a localização das principais minas do País e mapear quem detém o poder de exploração. “Queremos encontrar meios de intensificar a produção interna”, explica Heinze. Também devem ser discutidas as estratégias com o Sindicato Nacional de Matérias-Primas para Fertilizantes (Simprifert).
(Por Jussara Lautenschläger, Diário Popular, 15/05/2008)