Com a presença de autoridades e especialistas, a Câmara de Vereadores deu início ontem (14) ao fórum Porto Alegre, Uma Visão de Futuro. O evento, realizado na Pucrs, foi o ponto de partida para uma série de encontros que irão discutir temas importantes com relação ao planejamento estrutural da Capital.
O coordenador do seminário, João Carlos Brum Torres, lembrou que Porto Alegre é referência mundial em participação popular desde a criação do Orçamento Participativo. "O problema é que temos discussões anuais voltadas ao setor público. Temos que aprofundar os debates enfocando questões globais sobre o desenvolvimento urbano da cidade", destaca.
No primeiro encontro setorial o tema escolhido foi Mobilidade Urbana. Para apresentar alternativas, um grupo de três especialistas no assunto foi chamado à discussão: Cássio Taniguchi, ex-prefeito de Curitiba e atual secretário de Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal; o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) Orlando Strambi; e o secretário de Mobilidade Urbana da Capital, Luiz Afonso Senna. Além deles, o debate - mediado por Luis Antônio Lindau, professor do Laboratório de Sistemas de Transportes da Escola de Engenharia da Ufrgs - contou com a participação do presidente da Trensurb, Marco Arildo Cunha, e do diretor da Já Editores, Elmar Bonnes.
A série de eventos do fórum prossegue na próxima quarta-feira com o tema Desenvolvimento Econômico, envolvendo discussões sobre os setores industrial, tecnológico, de serviços, turismo e lazer na Capital. Os encontros reiniciam-se com a pauta voltada ao Urbanismo Sustentável no dia 11 de julho. Uma semana depois, o assunto será Dinâmica e Estética Urbana.
A meta do presidente da Câmara, vereador Sebastião Melo (PMDB), é encerrar o fórum com um seminário internacional que vai analisar as propostas recolhidas nos quatro encontros. "Estas alternativas servirão de base para a criação de um instituto de altos estudos sobre o futuro de Porto Alegre", comenta Melo.
Taniguchi destaca exemplo de Curitiba
A capital do Paraná tem um sistema viário que vem sendo planejado e adaptado há duas décadas e que se tornou referência mundial. A afirmação de Cassio Taniguchi, ex-prefeito de Curitiba e atual secretário de Desenvolvimento Urbano do Distrito Federal, mostrou que é importante pensar no futuro com antecedência.
Segundo ele, a mudança na capital paranaense começou com a implantação de ônibus expressos, em 1970. Vinte anos depois, veio o "ligeirinho", que tem como característica as estações-tubo, onde o passageiro paga o bilhete fora do ônibus, permitindo um embarque rápido. Taniguchi lembrou ainda que 2000 foi o grande momento de usar a tecnologia a serviço do transporte. "Chegamos à bilhetagem automática", disse.
Na opinião do palestrante, outros fatores são importantes para viabilizar o transporte nas grandes cidades. Citou como exemplo a modernização da frota, o reescalonamento de horários dos usuários e a consideração do uso de tecnologias modernas. Como fatores que causam problemas no trânsito, destacou a falta de integração entre os modais de transporte e a disputa entre veículos particulares e coletivos.
Outra tese defendida é a de que é preciso refletir cada vez mais sobre a idéia de conciliar moradia e trabalho. "Esta é a grande tendência do futuro", considerou. Para Taniguchi, nesse sistema, as pessoas podem se locomover a pé ou de bicicleta, por exemplo. "Não há tecnologia nem solução mágica que resolva determinadas coisas", concluiu.
Senna propõe incentivo ao transporte público
O secretário de Mobilidade Urbana da Capital, Luiz Afonso Senna, acredita que é preciso que sejam criadas formas de incentivar o transporte público, através de subsídios tributários com a redução de IPI sobre ônibus e de ICMS sobre o óleo diesel.
Senna destaca que é preciso adotar o que ele chama de "inteligência sistêmica", permitindo que haja harmonia entre o transporte público, os pedestres e os automóveis. Citou como exemplo a construção de ciclovias. "Esta semana a prefeitura concluiu o Plano Diretor Cicloviário, que prevê uma rede de 50 quilômetros para os ciclistas", adianta.
Segundo ele, a Capital possui 600 mil automóveis. "Somente em abril foram emplacados 4,8 mil carros. Em 2008, já foram 28 mil", comentou.
Apesar do número elevado, o secretário apresentou discordância às visões catastróficas, como aquelas que avaliam que Porto Alegre pode parar daqui a 15 anos por causa do excesso de carros nas ruas. "As cidades não param, elas se adaptam", afirma.
(JC-RS, 15/05/2008)