Um vídeo denunciando o lançamento de agrotóxicos sobre plantações e casas de agricultores por via aérea, em Jaguaré, norte do Estado, é a mais nova prova do desrespeito e perigo que as famílias da região estão sofrendo. O material será entregue às autoridades estaduais, com o objetivo de pressionar para que sejam tomadas providências.
Segundo o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o material mostra o momento em que o avião fazia a pulverização aérea, demonstrando, inclusive, a falta de conhecimento do piloto da aeronave sobre a região. Nos relados dos integrantes do movimento, o vídeo registra o piloto ultrapassando os limites de uma lavoura, para pulverizar os venenos, sem nenhuma autorização, sobre o plantio agroecológico de alimentos, em uma propriedade familiar.
Para o MPA, que atualmente conta com o apoio de sindicatos, das Escolas Agrícolas Familiares, da Pastoral da Juventude e das Igrejas Católicas da região, a comunidade está à mercê do descaso das autoridades.
Denuncia que o avião despeja agrotóxico aleatoriamente, sobre casas e plantios agroecológicos (que não utilizam venenos), sem respeitar o trabalho da comunidade local. Cresce, assim, o número de casos de pessoas contaminadas por venenos na região.
Denúncias neste sentido já foram protocoladas na Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agricultura de Jaguaré e no Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), mas até agora nada foi feito. Um pedido de audiência pública, em caráter de urgência, também foi feito pelo movimento, mas até agora nenhuma data foi marcada pelas autoridades.
O uso de agrotóxico na região é indiscriminado e o problema já atinge também outros municípios do norte. Há relatos do uso de avião para despejo de agrotóxico também em Vila Valério e Linhares, e há suspeitas de que o veneno atingiu também a Reserva Biológica de Sooretama.
Os venenos lançados sobre estas comunidades produzem doenças mortais, entre as quais alguns tipos de câncer, redução da imunidade e doenças genéticas. Podem provocar também impotência sexual (que pode levar ao suicídio) e frigidez.
Ao todo, os venenos agrícolas usados na produção de alimentos intoxicam 500 mil brasileiros por ano e, dos intoxicados, cerca de 10% ficam definitivamente incapacitados para o trabalho, o que totaliza uma perda de 50 mil trabalhadores/ano no país.
O Espírito Santo é o terceiro estado no país no consumo por pessoa dos venenos agrícolas. Os venenos são chamados pelas empresas de "defensivos agrícolas".
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 15/05/2008)