O novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc (PT), assumirá a pasta num cenário adverso, com desafios à agenda ambiental por parte de ruralistas e de desenvolvimentistas. Na avaliação de organizações ambientalistas, Minc terá dificuldade de atuação neste contexto.
Em outro front, o nome de Minc provocou divisão no PT, já que uma parcela do partido era favorável à indicação do ex-governador do Acre Jorge Viana (PT), que recusou o convite feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Minc tem histórico de defesa ambiental, mas terá de se comparar a Marina (Silva, ex-ministra), que sai maior do que entrou. Trata-se de um enorme desafio para ele porque a política ambiental é feita por executores", disse à Reuters Paulo Adario, diretor do Greenpeace no Brasil.
Para o dirigente, que elogiou a combatitvidade do novo ministro, de um lado o agronegócio pressiona pelo relaxamento das regras de desmatamento e de outro Minc terá que provar que a atual política ambiental será mantida, como declarou o presidente Lula.
O Greenpeace acredita ainda que Minc terá de conquistar a opinião pública internacional, que tinha em Marina um símbolo.
Outra representante, Denise Hamú, secretária-geral da WWF Brasil (Fundo Mundial da Natureza), vê entre as qualidades do novo ministro a do diálogo com os produtores.
"A ministra Marina foi muito coerente com as pressões que ela enfrentou, mas acho que ele tem mais experiência em lidar com o setor produtivo. Ele está sempre lidando com questões ambientais ligadas ao espaço urbano", disse Denise, para quem Minc, sem peso nacional, tem representatividade no Rio de Janeiro, onde é deputado estadual por seis mandatos.
A capacidade do governo de defender a Amazônia é a preocupação de André Villas-Bôas, coordenador do Programa Xingu do Instituto Socioambiental.
"A questão principal no ministério não é o nome (do ministro), mas os compromissos que o governo tem de assumir. O que está em cheque é a capacidade do governo de ter governança sobre a Amazônia", declarou. "Conseguir ter controle sobre essa situação é um desafio imenso."
No PT, a líder do partido no Senado externou o sentimento da sigla ao não esconder a insatisfação com a indicação de Minc. Para petistas históricos, Jorge Viava é mais identificado com o partido, enquanto Minc, fundador do PV, só se elegeu pelo PT em 1990.
"Eu estava torcendo para o Jorge Viana", disse a senadora Ideli Salvatti (PT-SC). Ela crê que, por ser da região amazônica, Viana lidaria melhor com três recentes episódios que tiveram grande repercussão internacional: o impasse da reserva indígena Raposa Serra do Sol em Roraima, a absolvição do suposto mandante do assassinato da irmã Dorothy no Pará e a própria saída de Marina Silva.
Para a senadora Solange Amaral (DEM-RJ), pré-candidata à prefeitura do Rio, dificilmente Minc terá carta branca para trabalhar. "Não sei se ele vai conseguir enfrentar os lobbies da soja, da madeira, do desmatamento, mas desejo boa sorte. É uma realidade muito diferente da que ele enfrenta no Rio."
No setor rural, a crença é de que Minc é menos ideológico e mais pragmático do que Marina.
"Ele se revelou bastante operativo no governo do Rio, mexeu em projetos ambientais antigos. Há informações de que ele deu bastante velocidade. A Marina radicalizou exageradamente o diálogo, pôs muita ideologia, acho que esse novo ministro, nas primeiras avaliações que fazemos, é bastante positivo."
(Estadão Online, 14/05/2008)