Um índio atirou ontem um copo de água no deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) durante audiência pública na Câmara dos Deputados para discutir a demarcação da reserva indígena Raposa/Serra do Sol. A confusão teve início quando Bolsonaro chamou o ministro Tarso Genro (Justiça) de "terrorista", depois que o ministro se recusou a responder a um questionamento seu sobre a reserva.
Irritado com as ofensas ao ministro, o índio Jacinaldo Barbosa jogou o copo de água em Bolsonaro. "Eu peguei um copo de água porque não tinha uma flecha. Se eu tivesse, metia uma flechada nele", ameaçou. Seguranças da Câmara foram chamados para controlar a confusão, mas o índio não chegou a ser retirado da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional depois de sucessivos apelos de parlamentares favoráveis à causa indígena.
O deputado questionou Tarso sobre os poderes do governo federal para fixar a demarcação contínua da reserva indígena, uma vez que a União é composta pelos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário --que, na opinião do deputado, deveriam ter participado do processo.
Como Tarso não respondeu diretamente a Bolsonaro --e preferiu falar sobre a sua biografia aos parlamentares-- o deputado disse que conhecia a história "terrorista" de Tarso.
Irritado, o ministro reagiu ao afirmar que Bolsonaro mentiu quando disse que seu histórico é de terrorismo. "Eu nunca participei de ato terrorista, deputado, o senhor está mentindo. É mentira", enfatizou. Com ironia, o deputado respondeu ao ministro.
"Pode até não ser Vossa Excelência [terrorista], mas o seu grupo, tipo [a ministra] Dilma Rousseff [Casa Civil]."
Depois de ser atingido pelo copo de água, Bolsonaro acusou o índio de não ter legitimidade para defender a demarcação da reserva. "É um índio que está a soldo aqui em Brasília, veio de avião, vai agora comer uma costelinha de porco, tomar um chope, provavelmente um uísque, e quem sabe telefonar para alguém para a noite sua ser mais agradável. Esse é o índio que vem falar aqui de reserva indígena. Ele devia ir comer um capim ali fora para manter as suas origens", ironizou.
O índio acompanhou a audiência no plenário e acusou o governador de Roraima, José de Anchieta Júnior --que também participou da discussão-- de "patrocinar o terrorismo" na região. Jacinto também acusou Bolsonaro de "desconsiderar o direito dos povos indígenas" ao atacar Tarso.
(Por Gabriela Guerreiro, Folha Online, 14/05/2008)