O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou nesta quarta-feira que a Amazônia deve ser tratada e respeitada como "soberania nacional" e descartou intervenções estrangeiras na região. Mas Lula disse que o governo brasileiro aceita "repartir de forma solidária" os benefícios da região porque os brasileiros não são "trogloditas". Ele lembrou que para partilhar é necessário haver contrapartida dos interessados com apoio a políticas de desenvolvimento para a região.
Lula e a chanceler da Alemanha, Ângela Merkel, concederam entrevista coletiva em conjunto no Palácio do Planalto.
"A Amazônia é de fato e de direito da inteira responsabilidade da soberania nacional", disse Lula, respondendo a um jornalista alemão que questionou se o Brasil aceitaria intervenção estrangeira nas ações de preservação da Amazônia. "Agora não somos nenhum troglodita para não entender que a preservação da Amazônia não pode ser interesse apenas do Brasil porque nós queremos partilhar a riqueza da biodiversidade, ainda inexplorada da Amazônia com os cientistas do mundo inteiro e poderemos partilhar isso."
Segundo Lula, o governo brasileiro se dispõe a dividir benefícios na Amazônia, mas quer como contrapartida apoio para implementação de políticas de desenvolvimento para a região. De acordo com ele, é fundamental lembrar que naquela área estão 25 milhões de pessoas que precisam ter qualidade de vida.
"Queremos partilhar os benefícios que a Amazônia oferecer enquanto floresta em pé aos 6 bilhões de seres humanos no mundo. Mas é preciso que a gente também tenha clareza que se manter a floresta em pé é uma coisa tão importante para o mundo, é importante também que o mundo compreenda que isso tem um custo. Porque lá [na região da Amazônia] moram 25 milhões de habitantes, que querem ter acesso à casa, a rodovias e à televisão e a computadores, que é no fundo, no fundo, o desejo de todos os seres humanos", ressaltou o presidente.
Lula afirmou ainda que o ideal seria que todos os governos tivessem a mesma disponibilidade de "compartilhar" eventuais descobertas e benefícios. Como exemplo, o presidente citou a eventual descoberta para a cura do câncer por algum país que deveria dividir seus efeitos, sem calcular ganhos.
"O Brasil tem toda a disposição de discutir as questões da Amazônia com o mundo inteiro, como eu gostaria que o país que descobrisse o remédio para enfrentar o câncer não fizesse disso uma mercadologia individual, mas que fosse transformado em um benefício para a humanidade. E não transformando em mercadologia porque nós sabemos que os ricos irão ter acesso e os pobres irão morrer na véspera", disse Lula.
(Por Renata Giraldi e Eduardo Cucolo, Folha Online, 14/05/2008)