O primeiro número temático da revista Ciência & Ensino, publicação voltada a professores de ciências do ensino fundamental e médio e seus formadores, foi lançado pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Ciência e Ensino (gepCE), vinculado à Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Com o tema “Educação em ciência, tecnologia, sociedade e ambiente”, o número especial foi organizado por Noela Invernizzi, professora do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Laís Fraga, mestre em Política Científica e Tecnológica pelo Instituto de Geociências da Unicamp. O acesso à versão eletrônica da publicação, que tem periodicidade semestral, é gratuito.
A edição especial tem 19 artigos que trazem conclusões de estudos sobre o campo da ciência, tecnologia e sociedade (CTS) que, segundo os pesquisadores que assinam os trabalhos, representa uma nova forma de compreensão da ciência e da tecnologia e de suas relações com o ambiente social que, no Brasil, têm sido construídas desde o fim da década de 1960.
A partir da análise das implicações sociais, ambientais e éticas do desenvolvimento científico e tecnológico, o campo da CTS, ou CTSA, como também é chamado por alguns autores devido à importância que a dimensão socioambiental tem conquistado no sistema de ensino brasileiro, questiona a visão neutra da ciência e as idéias lineares de progresso a elas relacionadas.
“A visão neutra está associada com a idéia de que a produção científica não sofre influências de aspectos sociais, incluindo questões políticas e econômicas. Na visão da educação CTSA, a produção da ciência e da tecnologia não ocorre isoladamente e, por isso, faz parte de um contexto mais amplo, constituído por diferentes valores e interesses sociais e culturais”, disse o editor da revista, Henrique César da Silva, professor do Departamento de Geociências Aplicadas ao Ensino do Instituto de Geociências da Unicamp, à Agência FAPESP.
Segundo Silva, ainda que as pesquisas sobre a abordagem CTSA no Brasil tragam novas perspectivas para o campo da educação em ciências, esses estudos contribuem para aprofundar elementos que são discutidos há várias décadas por profissionais da área no Brasil e em outros países.
“Um exemplo é a discussão sobre a própria natureza da ciência enquanto conteúdo do ensino de ciências, questão que está dentro da abordagem da CTS, mas que vem sendo objeto de estudo paralelamente ao surgimento desse movimento”, apontou Silva.
“A natureza da ciência enquanto conteúdo significa ensinar física, química, geologia e biologia, por exemplo, e não trabalhar apenas os conceitos dessas disciplinas, mas também o imaginário dos alunos sobre ciência”, disse.
O desenvolvimento acadêmico no campo da CTS, descreve a publicação, teve início a partir dos anos 1980 e que, ainda hoje, as universidades brasileiras contam com um número reduzido de programas de educação superior dedicados ao estudo das relações entre ciência, tecnologia e sociedade, que se localizam quase exclusivamente no nível da pós-graduação. “Há ainda uma tímida inserção da abordagem CTS ou CTSA no currículo escolar e acadêmico em todo o país”, disse.
A formação dos indivíduos para a participação social, segundo ele, é um dos aspectos específicos que caracterizam essa abordagem e que, atualmente, está fortemente em pauta em diversos trabalhos. Trazendo para a prática, a necessidade, possibilidades e problemáticas relativas a construção de uma usina termelétrica, por exemplo, que não envolve apenas discussões técnicas sobre sua viabilidade de instalação em determinado local, ilustraria esse modelo de educação “socialmente participativo”.
“A abordagem CTS levaria esse tipo de discussão à sala de aula para ensinar aos alunos não apenas os conteúdos técnicos e científicos envolvidos com a construção da usina, mas também ensiná-los a se envolver no processo de tomadas de decisões políticas, sociais e ambientais que envolvam a sua implementação”, destacou.
Mais informações: www.ige.unicamp.br/ojs
(Por Thiago Romero, Agência Fapesp, 15/05/2008)