As concentrações atuais de gases causadores do efeito estufa na atmosfera podem não ser as maiores de toda a história do planeta, mas não tiveram equivalente há muito tempo. Há cerca de 800 mil anos, para ser exato, como mostram dois artigos publicados na edição de 15 de maio da revista Nature.
A pesquisa, feita por membros do European Project for Ice Coring in Antarctica (Epica), consistiu na análise de amostras de gelo retiradas a mais de 3 mil metros abaixo da superfície na Antártica. No primeiro artigo, o grupo analisou a concentração de dióxido de carbono e, no outro, de metano.
“A principal conclusão é que as concentrações atuais desses gases estufa não têm similares no passado”, disse Edward Brook, da Universidade do Estado de Oregon, nos Estados Unidos, em comentário sobre os estudos.
Bolhas de ar presas no gelo permitiram aos cientistas analisar a composição atmosférica entre 650 mil e 800 mil anos atrás – estudos anteriores haviam estimado as concentrações nos últimos 650 mil anos.
A conclusão é que as concentrações atuais de dióxido de carbono e de metano, dois grandes responsáveis pelo efeito estufa, são bem maiores. A do primeiro, por exemplo, que hoje está em 380 partes por milhão (ppm), ficou no período estudado entre 180 ppm e 260 ppm.
O menor valor é o mais baixo já encontrado em estudos feitos no gelo antártico. As pesquisas também destacam a estreita correlação entre as concentrações dos gases e a temperatura e o clima no planeta.
“Verificamos que o dióxido de carbono atmosférico esteve fortemente relacionado com a temperatura na Antártica durante oito ciclos glaciais, mas com concentrações significativamente menores entre 650 mil e 750 mil anos atrás”, destacaram os autores.
“Esses ciclos naturais que ocorrem a cada dezenas ou centenas de milhares de anos podem nos ajudar a compreender as forças que controlaram ou influenciaram o clima no passado e também as implicações das mudanças atuais no futuro do planeta”, disse Brook.
Os artigos High-resolution carbon dioxide concentration record 650,000–800,000 years before present e Orbital and millennial-scale features of atmospheric CH4 over the past 800,000 years, de Thomas Stocker e outros, podem ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.
(Agência Fapesp, 15/05/2008)