A concentração de gases do efeito estufa na atmosfera é mais alta atualmente do que em qualquer momento dos últimos ao menos 800 mil anos, afirmou um estudo divulgado nesta quarta-feira, 14, e realizado com base em amostras de gelo da Antártida. O resultado dessa pesquisa representa mais uma prova de que a humanidade está alterando o clima do planeta.
O dióxido de carbono e o metano presos nas pequenas bolhas de ar de camadas antigas de gelo encontradas a 3.200 metros de profundidade abaixo da superfície da Antártida acrescentam 150 mil anos a mais de dados aos registros que se estendiam então por 650 mil anos. "Podemos dizer com segurança que a concentração de dióxido de carbono e de metano é hoje, respectivamente, 28 e 124 por cento maior do que durante os últimos 800 mil anos", afirmou Thomas Stocker, da Universidade de Berna e autor do estudo.
Antes da Revolução Industrial, os níveis de concentração dos gases do efeito estufa pautavam-se principalmente pelas alterações de longo prazo na órbita da Terra ao redor do Sol, responsáveis por iniciar e finalizar oito eras do gelo nos últimos 800 mil anos.
No ano passado, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), responsabilizou as atividades humanas, e em especial a queima de combustíveis fósseis que libera gases do efeito estufa, pelo aquecimento global dos tempos modernos, o qual vem prejudicando o abastecimento de água e alimentos ao provocar uma intensificação de fenômenos como secas, enchentes e ondas de calor.
"As forças determinantes hoje são muito diferentes das forças determinantes do passado, quando havia apenas a variação natural", afirmou Stocker à Reuters a respeito do estudo publicado na revista Nature. Também participaram da pesquisa outros cientistas, da Suíça, da França e da Alemanha. Os especialistas, membros do Projeto Europeu de Prospecção do Gelo na Antártida, escavaram quase até o leito de pedra daquela região. Ao fazer isso, recuperaram camadas formadas por gelo comprimido e que guardam características da época em que surgiram.
Gelo mais profundo
Segundo Stocker, cientistas chineses e australianos analisam agora a possibilidade de escavar em regiões da Antártida onde há camadas de gelo ainda mais antigas, em alguns pontos a 4.500 metros de profundidade, o que poderia fornecer dados sobre o clima existente na Terra 1,5 milhão de anos atrás.
O estudo também descobriu a ocorrência de mudanças naturais no nível de concentração do dióxido de carbono. "Descobrimos oscilações claras no nível de dióxido de carbono 770 mil anos atrás, o que significa mudanças climáticas abruptas durante eras do gelo", disse Stocker.
E o artigo científico também revelou um novo recorde mínimo para a concentração de gás carbônico na atmosfera, de 172 partes por milhão (ppm) cerca de 667 mil anos atrás, ou algo em torno de 10 ppm menor que o recorde mínimo registrado antes. Sendo assim, essa cifra variou nos tempos remotos entre 172 ppm e 300 ppm. O estudo sugeriu ainda que o recorde negativo pode ser um sinal de que os oceanos, antigamente, absorviam mais dióxido de carbono. Hoje em dia, a concentração desse gás na atmosfera é de cerca de 380 ppm.
Vistos em conjunto, os dados "nos permitem conhecer mais a respeito do ciclo de carbono e de suas respostas às mudanças climáticas." As temperaturas em uma era do gelo ficam entre 5 e 6 graus Celsius abaixo das temperaturas de hoje. As mudanças climáticas poderiam acrescentar algo entre 1,8 e 4 graus Celsius às temperaturas deste século, segundo o IPCC.
(Por ALISTER DOYLE, REUTERS, 14/05/2008)