Em Brasília, Angela Merkel defende que biocombustíveis só fazem sentido se não houver desmatamento. Na Alemanha, ONGs protestam contra assinatura de acordo de cooperação no setor energético. Ao iniciar no Brasil sua primeira viagem à América Latina como chefe de governo da Alemanha, a chanceler federal Angela Merkel foi recebida em Brasília nesta quarta-feira (14/05) com honras militares pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Um dos primeiros atos oficiais dos dois chefes de governo foi a assinatura de um acordo de cooperação para a utilização de energias renováveis e a definição de padrões ambientais e sociais na produção de biocombustíveis, um assunto polêmico na Alemanha.
Já no início de sua estada, Merkel foi contundente ao condenar os desmatamentos para a produção de energia alternativa. "Os biocombustíveis são uma alternativa para as clássicas fontes fósseis de energia, mas apenas se forem produzidos de maneira sustentável", declarou a chanceler federal em Brasília. Não pode haver uma contraposição entre a preservação das matas e a produção de bioetanol, acrescentou.
A premiê alemã alertou ainda que a opção pelos biocombustíveis não pode ocorrer em detrimento da produção de gêneros alimentícios. Considerou a renúncia da ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, na véspera de sua chegada ao Brasil, um "sinal de alerta", que mostra que ainda há muito o que fazer nesse setor.
Referindo-se às restrições de Merkel, Lula assegurou que a produção de biocombustíveis no Brasil não tem impactos negativos sobre o meio ambiente e que o novo selo ambiental é uma garantia de condições humanas de trabalho. Ele disse ainda que o Brasil está disposto a participar de qualquer fórum para debater o tema e convidou a comunidade internacional para uma conferência sobre biocombustíveis em novembro.
ONGs protestam
O acordo bilateral de cooperação no setor energético é alvo de críticas na Alemanha. Na véspera da assinatura, uma rede de ONGs ambientalistas realizou um protesto em Bonn, na frente do Ministério do Meio Ambiente. Os ambientalistas alemães contestam as afirmações do governo brasileiro de que a produção do bioetanol atenda a padrões sociais e seja ecologicamente sustentável. Enquanto a ONU se prepara para iniciar em Bonn, na próxima semana, uma conferência sobre biodiversidade, Brasil e Alemanha estariam assinando um acordo que contribuiria para "o aniquilamento da floresta tropical e a destruição da natureza".
A ampliação do cultivo de cana-de-açúcar tira o espaço dos pequenos produtores da agricultura de subsistência, insistem os ativistas, apontando para a ameaça que o avanço da agroindústria representa para paisagens naturais no cerrado e na região amazônica.
As condições desumanas de trabalho que ainda imperam em plantações de cana-de-açúcar é outro ponto para o qual os ativistas alemães chamaram a atenção durante seu protesto na cidade que sedia vários organismos das Nações Unidas. Lembraram que só no estado de São Paulo há 19 casos de morte documentados de trabalhadores rurais e que milhares foram libertados no ano passado de condições de semi-escravatura.
Mais esforços do Brasil
O ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, manifestou preocupação de que a 9ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP9), que começará em Bonn na próxima segunda-feira, possa fracassar. "A comunidade internacional está numa encruzilhada", declarou o ministro nesta quarta-feira em Berlim. "Trata-se no fundo da sobrevivência do ser humano no nosso planeta." Gabriel exigiu explicitamente que o Brasil demonstre maior disposição para cooperar na questão da preservação das espécies. "Espero que os brasileiros demonstem maior flexibilidade no contexto da conferência."
(Agenturen, DW, 14/05/2008)