A seca que afeta a Espanha levou o governo de Barcelona a importar água para abastecer a população de 3,2 milhões de habitantes da cidade. O primeiro navio-cisterna, carregado com 19 milhões de litros de água potável, chegou à cidade na terça-feira. O volume é suficiente para o consumo diário de 170 mil pessoas. Por isso, o governo já contratou outras 63 viagens. O consumo diário em Barcelona é calculado em 293 milhões de litros por dia. Com as reservas municipais abaixo de 25%, a solução foi apelar para a água alheia.
A água sai do Rio Ebro, da cidade vizinha de Tarragona. Mas haverá retiradas também de Almería (no sul do país) e da fronteiriça Marselha (no sul da França), pagas pelo governo nacional até agosto. Segundo o governo, serão gastos 22 milhões de euros (cerca de R$ 57 milhões) por mês no transporte de água. Antes de chegar aos consumidores, a água passa por quatro controles sanitários.
Trens
O Ministério do Meio Ambiente afirma que comprar "excedentes" de outros lugares sai mais barato do que qualquer outro sistema. A usina de Carboneras, em Almería, a maior dessalinizadora da Europa (que transforma água do mar em água potável), gera 120 milhões de litros por dia.
Mas esse processo custa 0,5 euro (cerca de R$ 1,30) por metro cúbico. E a usina produz em dois dias e meio o que a cidade de Barcelona consome em apenas 24 horas. O acordo de transporte de água potável poderá ser ampliado também para as vias ferroviárias. "Para acabar com essa seca, faremos o que for necessário", disse o secretário de Meio Ambiente de Barcelona, Francesc Baltasar. "Estamos analisando custos de transporte ferroviário."
Críticas
A solução para a falta de água em Barcelona, porém, atraiu algumas críticas. Outras províncias (Estados) também afetadas pela seca, como Valência e Múrcia, entraram na Justiça em abril reclamando os mesmos direitos. Também no mês passado, trabalhadores de regiões banhadas pelo Rio Ebro fizeram uma manifestação com 300 mil pessoas em Barcelona e criaram um fórum contra a retirada de água. bSegundo o comunicado da plataforma Coordenação de Atingidos, a retirada da água dos rios é "um exemplo de má gestão e fomento de uso descontrolado" de água.
Os trabalhadores receberam o apoio de ONGs ambientailistas, como a WWWF/Adena, que considera grave tirar a água de seu espaço natural. "Esse método de levar 189 hectômetros cúbicos por ano terá impactos diretos e indiretos sobre toda a região hidrográfica do Rio Ebro", disse à BBC Brasil o responsável pela área de águas da WWWF/Adena, Guido Schmidt. "A perda de aportes de água e de sólidos como terra, areia e pedras provocará seu desaparecimento", acrescentou Schmidt.
"Mesmo que esses elementos sólidos sejam somente 1% agora, o rio precisa deles para sobreviver. O mais lógico é que o Ebro desapareça no mar", completou. Apesar das críticas, o transporte de água por barcos deverá continuar nas próximas semanas. O plano do governo é fazer dois carregamentos a cada três dias até agosto.
(BBC Brasil, 14/05/2008)