A cidade espanhola de Zaragoza pretende se converter na capital mundial da água e sede do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Mudança Climática, apoiando-se na Exposição Internacional que inaugurará dentro de 30 dias. A mostra estará aberta durante três meses e terá como tema central “Água e Desenvolvimento Sustentável”, e ao seu final será divulgada a “Carta de Zaragoza”. Será “um documento de alcance internacional sobre as boas práticas de gestão da água e base para a futura concretização de uma Convenção Internacional Sobre o Uso Racional da Água”, disse ontem à IPS o prefeito da cidade, Juan Alberto Belloch.
Este governante é advogado, foi juiz em várias cidades espanholas, em 1984 fundou a Associação Pró-Direitos Humanos do País Basco e foi nomeado porta-voz do coletivo progressista de magistrados Juizes para a Democracia. Belloch integrou em 1990 o Conselho Geral do Poder Judicial, em 1993 foi designado ministro do governo do socialista Felipe González, e em 1994 foi ministro do Interior e, dois anos depois, elegeu-se deputado. Em 2003 assumiu a prefeitura de Zaragoza, cargo para o qual foi reeleito no ano passado.
O tema central da Exposição se dividirá em vários subtemas, como “A água, recurso escasso”, “As paisagens da água”, “A água pra a vida” e “A água como elemento de relação entre os povos”, concentrando-se todos em impulsionar este recurso natural como protagonista de debates e análises do século XXI. Uma centena de países já confirmou presença, entre eles todos os da América Latina, cujas autoridades anteciparam que o pavilhão que alojará seus representantes terá a denominação “Sob a chuva, selvas e florestas latino-americanas”, expondo elementos climáticos, de solo e plantas, zoológicos, botânicos e hidrológicos.
O investimento total da Exposição Internacional está avaliado em 2,5 bilhões de euros (US$ 3,86 bilhões), entre o custo do recinto central e sua manutenção e de 9 bilhões de euros (US$ 13,9 bilhões) de investimentos privados. Belloch, que também deu uma conferência no Fórum Europa, de Madri, consultado pela IPS sobre as polêmicas transferências de água de uma região espanhola para outra, afirmou que cada caso deve ser analisado separadamente. Porque, acrescentou, “não é a mesma coisa transferir água para seu consumo nos lares, para irrigação, projetos imobiliários de caráter turísticos ou campos de golfe”.
O prefeito acredita que, a menos que haja uma evidente sobre de água em um ponto, não se deve fazer a transferência para projetos imobiliários turísticos ou campos de golfe, mas sim regulá-la adequadamente para os lares, “porque todos devemos contribuir para o desenvolvimento humano”. Além disso, deu com exemplo a sua cidade, que graças a um adequado planejamento hoje em dia consome 20% menos água do que há cinco anos, quando tinha 200 mil habitantes a menos do que atualmente. Isso começou com um pedido de que houvesse cem mil compromissos de economia individuais e coletivos, “e já estamos no 91.402”.
“Por isso, porque se pode fazer, o que devemos conseguir é que se concretize uma gestão da água em nível global em todo o mundo e esperamos que isso seja o centro do debate na Exposição”, disse o prefeito. Belloch concluiu destacando que “assim como Kyoto é um referente mundial sobre a mudança climática, converteremos Zaragoza em uma referência mundial sobre a água”. Esta afirmação se refere ao Protocolo de Kyoto, assinado nessa cidade japonesa em 1997 e em vigor desde fevereiro de 2005, que obriga seus países signatários a reduzirem, até 2012 5% de suas emissões de gases causadores do efeito estufa, em relação aos valores de 1990.
Olhando para o futuro e além da Exposição, em Zaragoza já começou a funcionar uma Tribuna da Água, reunindo especialistas de todo o mundo em torno de uma discussão permanente sobre o tema. Para isso contribuirá também a instalação nessa cidade do Escritório da Organização das Nações Unidas para a Década da Água, que foi inaugurado em 5 de outubro de 2007. A Década Internacional para a Ação “A Água, fonte de vida 2005-2015” foi aprovada pela Assembléia Geral da ONU em 2003. Esse Escritório da Década da Água objetiva permitir a gestão integral dos recursos hídricos, especialmente o abastecimento da água potável e do saneamento, e converter-se no centro de coordenação das Nações Unidas em um tema que envolve 19 de suas agências e cinco comissões regionais.
Carlos Fernández-Jáuregui, diretor do Escritório, afirma que a ação da mesma se insere entre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio relacionados com a água, aspirando reduzir em 50% a quantidade de pessoas no mundo que carecem de acesso à água potável e ao saneamento básico, em relação aos 2,6 bilhões que sofriam essa situação em outubro de 2007. Admitindo que a América Latina será a única região a alcançar essa meta, destacou que a África não conseguirá e que nesse continente se retrocede em lugar de avançar, por isso estão trabalhando propostas que nesse região ajudem a solucionar problemas, com informação, educação e projetos específicos.
Em Zaragoza, localizada próximo da fronteira com a França, espera-se que para a Exposição sejam credenciados cerca de 20 mil jornalistas e técnicos de comunicação de todo o mundo; a presença de dois mil especialistas para intervirem na Tribuna da Água; crescimento do número de voluntários para trabalhar na mesma, já havendo 35 mil inscritos, dos quais nove mil já receberam a formação necessária para o desempenho de sua função. Também já são comercializados três milhões de ingressos para entrar na Exposição, 46% da quantia colocada à venda pelos organizadores. Além disso, foi construído um aquário, o Parque Fluvial da Água Luis Buñuel, de 120 hectares, que poderá receber mais de 700 mil visitantes por ano, sem prejudicar o meio ambiente.
(Por Tito Drago, Envolverde, IPS, 14/05/2008)