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Dorothy Stang amazônia
2008-05-15
Jrnalista Natália Viana trabalhou durante 4 anos como repórter da revista Caros Amigos.  Pelo seu trabalho recebeu menção honrosa no prêmio Vladimir Herzog e o prêmio Andifes de Jornalismo.  Em 2007, publicou o livro "Plantados no Chão" a convite da editora Conrad.  O livro relata com detalhes a origem e as conseqüências de seis crimes ocorridos na luta pela posse da terra no Brasil, incluindo o assassinato de Dorothy Stang.

No livro, ela esmiúça alguns dos principais crimes cometidos na luta pela posse da terra no Brasil.  A jornalista também criou um blog, onde atualiza notícias sobre os crimes no campo.  Segundo ela, a idéia do blog Plantados no Chão vai além de atualizar as informações do livro, publicado em 2007 - embora, claro, isso seja necessário.  "Queremos também abrir um espaço para acompanhar outros casos de violência contra militantes e organizações por estarem exercendo seu direito de defender direitos, no termo usado pelas Nações Unidas.  Queremos também expandir a discussão para outros ângulos e outros desdobramentos dessa violência, que não é apenas violência física, mas também de outros tipos, como a repressão judicial, com inúmeros processos por "formação de quadrilha" ou a criminalização por parte da mídia", diz a jornalista, que falou com exclusividade para o DIÁRIO.

Como iniciou o teu envolvimento com esse tipo de cobertura jornalística?
Olha, o jornalismo mais social, como eu chamaria, foi um caminho natural dentro da revista Caros Amigos, onde eu tive meu primeiro emprego e onde trabalhei por quatro anos.  Na Caros, as reportagens são bem livres e cada repórter pode decidir a sua pauta.  Por isso, naturalmente fui atrás de histórias que me interessavam e explicam um pouco o porquê da desigualdade, o porquê da pobreza, ou as exemplificam.  Gosto de histórias que ajudem a entender um pouco do que está acontecendo no Brasil.  Lidar com a coerção aos movimentos sociais acabou sendo um caminho natural - todo mundo que cobre movimentos sociais já encontrou inúmeros aspectos disso.  Os assassinatos políticos são apenas a face mais brutal do processo que chamamos de criminalização dos movimentos sociais.

Quais os critérios adotados para que essas histórias fossem as escolhidas?
Cada um dos seis casos relatados no livro foi selecionado por um motivo de modo que a reunião deles ilustrasse diferentes aspectos do problema.  A escolha de Dorothy Stang foi óbvia, pois, além da repercussão, e até por causa dela, foi um caso que andou rápido na Justiça.  Para contrastar, achamos interessante relatar o massacre de Felisburgo, um episódio brutal em que o próprio fazendeiro, segundo testemunhas, entrou na terra ocupada para matar a sangue-frio um ex-funcionário e outros sem-terra.  Depois, achamos bom incluir também um caso envolvendo conflitos por terra indígena.  Aí encontrei o caso dos Xukuru, que aponta como a Justiça repetidamente criminalizou esses indígenas ao longo dos anos, com vários Xukuru respondendo processos judiciais.  Muito indígenas foram assassinados, mas há poucos assassinos punidos.  Depois, quisemos chamar atenção para o fato de que nas cidades também há violência contra militantes.  Então, tratamos do caso de Anderson Luís, que, aliás, deu origem ao livro.  O caso mostra como a investigação policial é lenta e falha em muitos casos.  O assassinato fez dois anos em abril e o inquérito policial nem foi concluído ainda.  O caso do Anderson Amaurílio, um estudante atropelado durante um protesto em Londrina, revela também a forte repressão policial e institucional que os estudantes do movimento pelo Passe Livre têm sofrido no país.  E por fim, o caso do sindicalista Anderson Luís, porque ele demonstra a violência policial contra manifestantes.  O caso dele é de arrepiar: ele foi estrangulado por policiais em frente a uma multidão no final de uma passeata - ora, uma coisa dessas só pode acontecer em um país que permite abertamente a violência contra quem protesta.

Como avalias o modus operandi dessas ações violentas?  Há um traço que as une em semelhança ou não?
Para começar todas as vítimas eram ligadas a movimentos reivindicatórios de direitos e tudo leva a crer que todas foram assassinadas por causa dessa reivindicação.  Em muitos casos, especialmente no meio rural e por conta de conflitos de terra, as vítimas já haviam sido ameaçadas e os autores da ameaça eram conhecidos.  Muitas vezes, a polícia e até mesmo o Judiciário já estavam sabendo, mas mesmo assim nada foi feito para prevenir a tragédia.  Depois do assassinato, os casos são tratados como assassinatos comuns e a investigação, seja na polícia ou no Judiciário, e mais ainda, a cobertura da imprensa, retira as circunstâncias políticas que levaram à morte.  Com isso, muitas vezes a investigação acaba apontando a causa como desavença, crime passional, roubo etc., mesmo que as testemunhas - e as organizações que trabalham no local - não se cansem de apontar para os conflitos que formaram o cenário para a morte.  E, por fim, a lentidão na Justiça e a total impunidade.  Segundo a CPT, de 1985 a 2006 foram assassinados 1.464 trabalhadores.  Só 85 casos foram a julgamento, e condenados só 71 executores e 19 mandantes.  Mais uma vez, um dos problemas é que o assassinato político não é tratado como tal e, portanto não recebe um tratamento diferenciado.

Há quem considere que os índios são ainda mais vítimas desse tipo de violência e que chama menos a atenção da opinião pública.  O que pensas a esse respeito?
É difícil falar quem é mais ou menos vítima.  Segundo dados que eu avaliei no relatório do CIMI de 2006/2007, 10 índios foram mortos por razões políticas nos últimos dois anos.  É uma minoria dentro do total de assassinatos.  Mas, sem dúvida, qualquer movimento que lute por terra é alvo potencial de crime político - a enorme maioria dos crimes se dá no campo.  Agora, com a situação de tensão aumentando em alguns lugares como entre Guarani Kaiowa do Mato Grosso e as comunidades da reserva Raposa Terra do Sol, em Roraima, parece que os índios estão cada vez mais propensos a ficarem na "linha de fogo".

Percebes que a Justiça tem agido mais de acordo com os interesses dos latifundiários ou volta-se para os agricultores quando se trata de julgar a violência rural?
Acho que a Justiça sempre agiu mais de acordo com os interesses dos latifundiários.  Por isso que o Helio Bicudo diz que a questão da terra no Brasil é política, mas é fundamentalmente jurídica.  É um debate sobre como ler a nossa Constituição: o direito social do acesso à terra se sobrepõe ao direito individual à propriedade.  Na verdade, essa teoria, mais progressista, tem ganhado espaço no nosso sistema jurídico graças a movimentos como o MST.  Mas é claro que a situação ainda está longe do ideal.  Basta ver o número de militantes respondendo a processos, presos, perseguidos, e a quantidade de latifundiários na mesma situação.

No caso da missionária Dorothy Stang costuma-se avaliar que houve celeridade nas investigações e no julgamento.  Como avalias isso?  Foi pelo fato de ela ter origem norte-americana?
Não só é estrangeira como émulher, missionária católica e americana, sem dúvida.  O próprio governo americano ficou de olho, houve repercussão na imprensa estrangeira e como sempre no Brasil a Justiça anda com base na pressão.  O ministro da Justiça de então, Márcio Thomaz Bastos, disse na época que nunca houve um caso de julgamento tão rápido no Brasil.  Infelizmente isso não é coisa para se comemorar, já que o tratamento dela foi totalmente diferente do que geralmente acontece, como eu aponto no livro.

(Diário do Pará, Amazonia.org.br, 15/05/2008)

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