Estrutura tombou na noite de 30 de janeiro, na Baía da BabitongaO maricultor Juliano Ribeiro Mendes, secretário da Associação de Maricultores da Praia de Paulas, em São Francisco do Sul, levou ontem um documento e uma preocupação ao Fórum da cidade. Desde ontem à tarde, quando o casco da barcaça da Norsul foi rebocado, a estrutura está fundeada (ancorada) a cerca de 500 metros da área onde Mendes e mais 25 famílias cultivam marisco na Baía da Babitonga.
No ofício ao Ministério Público de Santa Catarina, a associação expõe o risco de novo vazamento de óleo dos tanques da barcaça e faz um pedido:
- Queremos que o Ministério Público entre em contato com eles e peça que levem a barcaça para fora da área de cultivo.
Por volta das 8h de ontem, maricultores perceberam a movimentação em torno de uma mancha de óleo. A Capitania dos Portos de São Francisco, que mantém um militar no local, afirma que o óleo não vazou dos tanques que existem no interior do casco da barcaça. A Marinha diz que a mancha foi resultado da limpeza da balsa Superpesa X, que está ancorada ao lado do casco da barcaça.
- A embarcação foi notificada. Cerca de 1,5 litro de óleo diesel foi derramado e retirado em seguida - disse o delegado Alexandre Lopes Vianna.
A balsa, que apóia uma máquina de tração, vai desvirar o casco da barcaça - próxima etapa do plano de resgate. De acordo com a promotora Simone Schultz, o MP vai pedir informalmente à Capitania dos Portos que o casco de 122 metros seja retirado do local.
- Se não formos atendidos, vamos fazer por meio da ação civil - afirmou, citando a ação pública feita com o Ministério Público Federal para apurar a responsabilidade quanto ao impacto ambiental do acidente com as embarcações da Norsul.
Norsul comprou e descartou 800 toneladas de marisco
Tombado na noite de 30 de janeiro, o conjunto de empurrador e barcaça de carga continha cerca de 124 metros quadrados de óleo no momento do acidente. A possível contaminação do marisco, após parte do óleo que havia nos tanques das embarcações ter sido derramado na Babitonga, custou prejuízo à Norsul.
A empresa não quis falar em valores. Mas, além de ter comprado cerca de 800 toneladas de marisco - que teve de ser descartado - , a Norsul arca desde fevereiro com as pensões alimentícias de catadores e coletores de marisco, além de pescadores artesanais. Hoje à tarde, a empresa se reúne no Fórum de São Francisco com as associações para discutir se o pagamento das pensões continua.
Fora a questão econômica de maricultores, ambientalistas avaliam que o acidente com as embarcações da Norsul é uma amostra do que pode ocorrer com maior freqüência nos próximos anos.
Há pelo menos quatro projetos de portos no entorno da Babitonga. Mesmo que a baía seja o hábitat de pelo menos duas espécies protegidas por portarias do Instituto do Meio Ambiente (Ibama): toninhas e peixes meros. De acordo com a bióloga marinha Marta Cremer, da Univille, a atividade portuária é incompatível com a sobrevivência desses animais:
- Todo o porto traz uma gama de produtos tóxicos e possibilidade de acidentes ecológicos.
No caso do acidente com o comboio da Norsul, a bióloga vê a abertura de um precedente ainda mais perigoso:
- A empresa não passa informações. Até hoje não se sabe quanto de óleo foi derramado.
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Diário Catarinense, 14/05/2008)