Uso de triciclos, como está sendo adotado pelo Distrito Federal, é descartado por Porto Alegre
Ontem pela manhã, 13 triciclos movidos a diesel saíram às ruas do Distrito Federal com a missão de coletar lixo e substituir as carroças, cuja circulação foi proibida
Embora Porto Alegre tenha cogitado aplicar a mesma medida há sete anos, a adoção de carrinhos semelhantes por carroceiros, caso os veículos de tração animal sejam banidos por lei, é descartada pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU).
Apolêmica das carroças voltou à discussão na segunda-feira depois de o colunista Paulo SantAna acompanhar o trajeto de uma delas por vias da Capital.
Em Brasília, os veículos foram doados à Central das Cooperativas de Catadores de Materiais Recicláveis (Centcoop) pela Fundação Banco do Brasil a um custo unitário de R$ 17,6 mil. A Centcoop congrega 17 organizações e cerca de 3,5 mil catadores. A ação dos ex-carroceiros no Distrito Federal foi legalizada por meio de um decreto que instituiu a coleta seletiva nos órgãos públicos federais e sua destinação às associações de catadores.
Alguns deles obtiveram Carteira Nacional de Habilitação e treinamento para pilotar os triciclos, enquanto a maioria trabalhará nas unidades de reciclagem separando o material trazido da rua pelos veículos. Em 2001, o então prefeito de Porto Alegre Tarso Genro chegou a guiar um carrinho semelhante pelo centro da Capital, também destinado a substituir os cavalos nas ruas. Pouco tempo depois, o projeto acabaria caindo no esquecimento.
Uma das razões é que, enquanto em cidades como Brasília o poder público não se incumbe de todo o recolhimento de resíduos recicláveis, em Porto Alegre ele alcança 100% dos bairros. O modelo porto-alegrense estabelece a primazia do DMLU na captação do lixo, e o próprio departamento não admite a legalização dos catadores.
- Se contarmos com essas pessoas para fazer o serviço, como ter a garantia de que ele será feito num dia de chuva, ou no horário correto, como nós fazemos, por exemplo? Além disso, geralmente os resíduos vão para a casa desses catadores e acabam contaminando o ambiente - argumenta o diretor da Divisão de Projetos Sociais do DMLU, Jairo Armando dos Santos.
Idéia é transferir trabalhadores para unidades de triagem
Por isso, para o órgão, a solução é eliminar a ação dos catadores nas ruas e transferir esses trabalhadores para unidades de triagem onde fariam a separação do lixo seco do orgânico. Um dos entraves é a resistência de muitos carroceiros a essa mudança.
- Nos galpões, muitas vezes não se tira nem um salário mínimo. Trabalhando na rua, dá para tirar R$ 700, R$ 800 - diz o presidente da Associação dos Carroceiros da Grande Porto Alegre, Teófilo Rodrigues Motta Júnior.
Conforme a prefeitura, o rendimento médio nas unidades de triagem hoje é de R$ 480 mensais. Santos acredita ainda que parte do faturamento dos carroceiros vem do lixo de comerciantes que preferem destinar seus resíduos para os catadores. Eles evitam repassar para a prefeitura, a fim de não pagar a taxa cobrada dos grandes geradores de lixo.
A questão, porém, provoca controvérsia dentro do próprio governo. Para um dos tradicionais defensores dos carrinhos e atual secretário municipal do Planejamento, José Fortunati, uma mudança na lei que tirasse a primazia da coleta do DMLU e um projeto de organização dos catadores em cooperativas eliminariam o risco social da extinção das carroças.
- Basta mudar a lei e criar cooperativas devidamente autorizadas e organizadas em galpões de reciclagem - sugere o secretário.
(Por Marcelo Gonzatto, Zero Hora, 14/05/2008)