No sexto ano da morte do ecologista, família recebe o Correio do Povo e informa que organiza um acervo para visitação pública
Seis anos após sua morte, no dia 14 de maio de 2002, as idéias defendidas pelo ecologista José Lutzenberger continuam vivas. Lutz, para alguns; visionário, para outros; ou louco, para poucos. O certo é que o gaúcho de Porto Alegre ultrapassou as fronteiras do Estado e do país e se tornou referência internacional na defesa do meio ambiente. Suas teses e lutas marcaram gerações e serviram como alerta para problemas que, hoje, chocam de tão reais e próximos. Atualmente, seu legado está presente em pelo menos três vertentes: a extensa biblioteca produzida e reunida pelo ecologista, a Fundação Gaia e a empresa Vida.
Pela primeira vez nos últimos seis anos, a imprensa teve acesso ao local onde Lutzenberger viveu a maior parte de seus 75 anos de vida. A imponente casa de três andares, localizada na rua Jacinto Gomes, número 39, no bairro Bom Fim, foi erguida na década de 1930 por seu pai – o engenheiro arquiteto José Lutzenberger, que também projetou o Palácio do Comércio, a sede do Pão dos Pobres e a Igreja São José de Porto Alegre.
Durante décadas, a grande casa serviu de moradia para três gerações da família. Hoje, ainda conta com boa parte da biblioteca reunida pelo ecologista. São inúmeros livros, documentos, artigos e manuscritos que estão sendo organizados por suas filhas, Lara e Lilly.
Segundo Lara Lutzenberger, de 38 anos, a meta para os próximos anos é organizar totalmente o acervo deixado pelo pai, para a criação de uma biblioteca com acesso público e de um catálogo virtual de sua produção. 'A casa também necessita de reparos e há carência de recursos para sua restauração', revela. Na residência – que tem 12 peças, três banheiros, cozinha, área de serviço, garagem e sótão –, chamam a atenção os belos vitrais que ornamentam a escada de acesso aos andares superiores e uma sala espaçosa, na qual o ecologista costumava receber visitas e conceder entrevistas para jornalistas brasileiros e do exterior.
Poucas roupas e móveis foram mantidos. Em um deles, estão penduradas duas boinas, uma de suas marcas características. 'Meu pai era absurdamente autêntico e totalmente avesso a convenções, e isso o tornava caricato e curioso aos olhos dos outros', explica Lara. 'Porém, quando ele começava a falar, com tanto carisma, clareza e conhecimento, surpreendia as pessoas. Ele foi um grande visionário e suas idéias ainda ecoam, e, pouco a pouco, se tornam realidade', declarou.
(Por Elio Bandeira, Correio do Povo, 14/05/2008)