A saída da ministra Marina Silva põe fim a um processo de desgaste da titular da pasta do Meio Ambiente que se acentuou no ano passado, quando o atraso na concessão de licenças ambientais pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foi apresentado como o grande vilão para o não andamento de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez críticas públicas à área sob o comando de Marina, quando a falta de licenças atrasou o processo de leilão das usinas do Rio Madeira.
Sob forte bombardeio desde então, a ministra mantinha suas convicções em eventos públicos. Ainda ontem, durante lançamento do Programa Brasileiro de Inventário Corporativo de Gases de Efeito Estufa, a ministra teve a coragem de criticar o investimentos em biocombustíveis. "O Brasil não quer ser a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) dos biocombustíveis. (...) Queremos dar nossa contribuição em relação aos biocombustíveis, mas observando nossa capacidade de suporte. E de forma que não comprometa a segurança alimentar nem a questão ambiental", disse Marina à Agência Brasil. "Nossa economia depende 50% da nossa biodiversidade. Quem destruiria sua galinha dos ovos de ouro?", indagou.
Marina tem uma trajetória muito parecida com a do presidente Lula. Nascida em 1958, na "colocação" (espaço explorado por uma família dentro do território do seringal) Breu Velho, no Seringal Bagaço, a 70 quilômetros de Rio Branco, capital do Acre, trabalhou como empregada doméstica e alfabetizou-se pelo antigo Mobral. Após fazer o supletivo, aos 26 anos formou-se em História pela Universidade Federal do Acre.
Em 1985, ela filiou-se ao PT e passou a participar das Comunidades Eclesiais de Base, de movimentos de bairro e do movimento dos seringueiros. Em 1984, foi fundadora da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Acre, que teve Chico Mendes como seu primeiro coordenador, com Marina atuando como vice-coordenadora. Nas eleições municipais de 88, foi a vereadora mais votada em Rio Branco e conquistou a única vaga de partidos de esquerda na Câmara Municipal. Em 1990, candidatou-se a deputada estadual e foi novamente a mais votada. Marina Silva foi eleita pela primeira vez para o Senado em 1994. Na época, aos 36 anos, foi a senadora mais jovem da história da República. Em 2002, foi reeleita com uma votação quase três vezes superior à anterior.
(Agência Estado,
Amazonia.org.br, 13/05/2008)