A 28º temporada reprodutiva das tartarugas marinhas nas praias capixabas chegou ao fim. Ao todo, o Projeto Tamar registrou 1.698 ninhos e conseguiu proteger 122.923 filhotes, quase 11 mil filhotes a mais que na temporada passada. Os números são satisfatórios, entretanto, ameaças como poluição marinha e pesca predatória precisam ser combatidas.
Segundo o coordenador técnico regional, Antônio de Pádua Almeida, os resultados são bons, mas há uma série de ameaças, inclusive a poluição marinha e a pesca de espinhéis e de rede de arrasto, que ainda ameaçam estas espécies. "A batalha não está ganha, sem combater estes problemas, a luta toda vai por água abaixo", ressaltou ele.
Apesar do crescimento da poluição e da falta de combate eficiente à pesca predatória no Estado, neste ano, dos 1698 ninhos registrados pelo Tamar, 99% são da espécie de tartaruga-cabeçuda (Caretta-caretta). Há ainda a ocorrência em média de 50 a 100 ninhos da espécie de tartaruga-de-couro, conhecida também como tartaruga gigante (Dermochelys coriacea), espécie mais ameaçada do litoral brasileiro, justamente pelas atividades predatórias e pela poluição. O litoral capixaba é o único no País onde esta espécie desova.
As sete bases estaduais do Projeto Tamar estão localizadas desde o município de Aracruz, no norte do Estado, até a divisa com a Bahia. Há ainda a Ilha de Trindade, onde uma outra espécie se reproduz. Segundo Antônio Almeida, na região há uma intensa ocorrência de desova de tartaruga-verde (Chelonia mydas). Cerca de três a cinco mil ninhos por ano.
Em menor quantidade, reproduzem-se também no litoral capixaba as tartarugas-de-pente (Eretmochelys imbricata) e oliva (Lepidochelys olivacea). O Tamar afirma que durante o período reprodutivo uma importante comprovação foi feita na base de Comboios, em Linhares. Uma fêmea de Caretta caretta (tartaruga cabeçuda), marcada pela primeira vez nessa base, em novembro de 1982, foi flagrada novamente na mesma praia durante a temporada 2007/2008.
A mesma fêmea já havia sido flagrada nessa região nas temporadas de 1993, 1995, 1997 e em 2004, o que mostra uma fidelidade de pelo menos 25 anos à praia de desova. Trata-se, de acordo com o Tamar, de uma longevidade reprodutiva nunca antes registrada, e se for considerado que essa espécie leva cerca de 30 anos para se tornar adulta, essa "velhinha" tem, no mínimo, 75 anos.
Com os bons resultados obtidos não só no Estado, mas também nas outras bases localizadas no Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe e Rio Grande do Norte, o Tamar comemora cerca de 900 mil filhotes protegidos nesta temporada, que foi de setembro de 2007 até o início deste mês.
Ao todo, há 16 bases de proteção às áreas de desova no continente monitoradas. São aproximadamente 620 quilômetros de praias, espalhadas ao longo dos cinco estados brasileiros, onde se concentram as principais ocorrências reprodutivas de tartarugas marinhas.
Nestas regiões o Tamar concentra esforços de educação ambiental, envolvimento comunitário, disponibilidade de recursos e aprimoramento do monitoramento das praias. Já conseguiu manter cerca de 70% dos ninhos no local original de postura escolhido pela fêmea. Somente os ninhos que corriam riscos de predação humana ou animal, ação da maré, ou localizados em áreas urbanizadas é que foram transferidos para os cercados de incubação, expostos às condições climáticas naturais, ou para trechos seguros de praia.
Com 28 anos de atuação no Estado, o Projeto Tamar foi responsável, através de suas ações, pela proteção de nove milhões de filhotes de tartarugas.
A temporada reprodutiva das tartarugas marinhas vai de setembro até o final de março/início de abril. Nesse período as tartarugas percorrem milhares de quilômetros pelos mares, em áreas que ainda estão sendo pesquisadas, para voltar e desovarem na praia onde nasceram.
Entre agosto e setembro deste ano, as tartarugas começam a retornar ao Estado para mais uma temporada de desova. O coordenador regional lembra que as tartarugas não desovam todos os anos, e por isso, as mesmas que estiveram no litoral capixaba na temporada de 2007/2008, podem não retornar em 2009. Assim, o Estado poderá receber no próximo ano tartarugas que nunca desovaram na região ou mesmo tartarugas que podem estar até três anos sem retornarem às praias onde nasceram.
(Por Flávia Bernardes,
Século Diário, 12/05/2008)