A mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster) é muito diferente do homem não apenas no número de genes, mas também na quantidade de interações protéicas em seus organismos.
A conclusão é de um estudo feito por cientistas europeus, que desenvolveram uma nova técnica para estimar o total de interações entre proteínas em qualquer organismo.
O trabalho, que será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), indica que o homem tem cerca de dez vezes mais interações entre proteínas do que a mosca-da-fruta.
Uma das maiores surpresas encontradas após o início do seqüenciamento do genoma de organismos foi a diferença muito menor entre os números de genes do que se imaginava. Enquanto o homem, por exemplo, tem cerca de 24 mil genes, a drosófila tem 14 mil.
Ou seja, o total de genes não é suficiente para expressar a complexidade dos organismos. Por conta disso, no novo estudo os pesquisadores decidiram investigar as interações protéicas, que, como destacaram, “parecem estar mais relacionadas com a complexidade biológica aparente”.
Tais interações estão por trás de todos os sistemas fisiológicos no organismo humano. Quando o corpo digere alimentos, responde a mudanças em temperatura ou combate uma infecção, numerosas combinações de interações protéicas estão envolvidas.
Mas, até agora, não se havia conseguido calcular os números dessas interações que ocorrem em diferentes organismos. O total de interações protéicas do organismo humano é chamado de interactoma.
O grupo coordenado por Michael Stumpf, professor do Departamento de Ciências da Vida do Imperial College London, na Inglaterra, desenvolveu uma ferramenta matemática que permite estimar o total de interações baseado em dados disponíveis e mesmo incompletos.
“Essa abordagem foi aplicada a diversos organismos eucariontes, sobre os quais foram coletados dados extensos sobre interações protéicas, e pudemos estimar o número de interações em humanos em aproximadamente 650 mil”, destacaram os autores no artigo.
“Compreender o genoma humano definitivamente não é o suficiente para explicar o que nos torna diferentes das criaturas mais simples. Mas nosso estudo indica que as interações protéicas podem conter uma das chaves que revelarão como um organismo se diferencia de outro”, disse Stumpf.
O artigo "Estimating the size of the human interactome", de Michael Stumpf e outros, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em www.pnas.org.
(Agência Fapesp, 13/05/2008)