A Universidade de Coimbra (UC) está a preparar-se para produzir energia eléctrica com o objectivo de satisfazer as suas necessidades de consumo e de vender o excedente. vO projecto está ligado à remodelação do estádio universitário, que deverá estar concluído em seis anos, e a produção de energia será feita através de painéis fotovoltaicos e do processo de co-geração.
Os dois métodos foram escolhidos pela UC por serem os mais "adequados" às características do estádio: os painéis fotovoltaicos vão transformar energia solar em energia eléctrica, enquanto o processo de cogeração permite a produção simultânea de energia eléctrica e calor. "Como o estádio universitário tem uma utilização intensiva de balneários, sobretudo a partir das cinco e até à meia-noite... Um sistema destes, em que se está a produzir electricidade e água quente, chega a ter um rendimento de 90 por cento", explica Raimundo Mendes da Silva, o pró-reitor da UC para as instalações, segurança e ambiente.
O projecto, que a UC planeia alargar ao Pólo II (das Ciências e Tecnologias) e ao Pólo III (da Saúde), que deverá estar concluído em 2013, tem como objectivo responder às necessidades de consumo da universidade, poupar na factura energética e adoptar práticas mais amigas do ambiente. Se a produção estiver acima do consumo, Raimundo Mendes da Silva admite que a universidade vai vender a energia em excesso.
Novas preocupações
"Não pode ser uma afirmação solta do género "UC vai produzir energia", porque não é essa a sua missão. Mas a universidade não pode deixar de estar atenta aos programas de política ambiental e de ter preocupações com a sua saúde financeira. O objectivo é responder às nossas necessidades, mas estamos abertos à venda nos termos definidos pela lei", frisa o pró-reitor, que, para já, prefere não adiantar quanto é que o projecto poderá render à universidade.
A UC admite que o investimento será avultado, mas não revela os montantes envolvidos. Apesar de custo final estar ainda dependente das áreas nas quais os sistemas serão aplicados, Raimundo Mendes da Silva prevê que este seja um investimento com retorno ao fim de seis anos. Para pôr a ideia em prática, a UC espera obter financiamentos não só do Quadro Referência Estratégico Nacional, como também da Comissão Europeia.
A história deste projecto começou já há cerca de três anos quando a UC definiu um "plano de política ambiental" que tinha a energia como subprojecto. A primeira etapa consistiu na avaliação da gestão dos contratos de consumo de electricidade existentes nos diversos departamentos da secular instituição de ensino, de forma a perceber se eram os mais adequados. "Daí para cá, os projectos têm sido vários", adianta o pró-reitor.
O Programa Iluminação Incandescente Zero, por exemplo, tem como objectivo proceder à substituição total da iluminação incandescente tradicional em todas as instalações da UC. Esta iniciativa, que prevê um investimento de 15 mil euros, terá o seu retorno ao fim de sete meses. E a poupança será de 113,4 toneladas de Co2. Para já, foram substituídas mais de duas mil lâmpadas.
Mas há outros projectos, como o que prevê a substituição da iluminação fluorescente por equipamento de última geração na Faculdade de Letras, na Biblioteca Geral, no arquivo da Universidade e no auditório da reitoria. O resultado desta medida vai provocar uma diminuição dos consumos de energia em iluminação na ordem dos 34 por cento, o que representa uma poupança de cerca de 50 mil euros anuais, face a 2006. Segundo dados fornecidos pelo pró-reitor, só em iluminação a Universidade de Coimbra registou, no ano passado, uma poupança de cerca de 100 mil euros.
Também os projectos das futuras faculdades de Psicologia e Ciências do Desporto incluem sistemas de refrigeração do ar ambiente através do aproveitamento do arrefecimento dos solos.
Estas iniciativas permitiram à UC candidatar-se com sucesso ao Plano de Promoção da Eficiência do Consumo de Energia Eléctrica, obtendo um financiamento de 255 mil euros. "Além disso, esta sequência de acções levou-nos no ano passado a ser parceiro green light, ou seja, assumir com a União Europeia a realização de novas acções no sentido de racionalizar o consumo de energia. Só somos parceiros green light enquanto mantivermos esta actividade. Agora, era inquestionável dar um salto maior", afirma Raimundo Mendes da Silva, referindo-se à produção de energia.
(Por Maria João Lopes, Ecosfera, 12/05/2008)