Comunidades têm dificuldade de eleger prioridades diante de tantas carências
Sempre que a meteorologia alerta para o risco de temporais, ventos ou até ciclone, os moradores das ilhas do Guaíba trocam o sono pela vigilância. Tudo para evitar surpresas com a elevação do nível das águas que invadem as casas. Foi assim no início do mês, quando o ciclone extratropical atingiu Porto Alegre, a região Metropolitana e o Litoral Norte. 'Fiquei duas noites segurando as amarras do pesqueiro', relatou o presidente da Colônia Z-5 e da Federação de Pescadores do RS, Vilmar Coelho. Morador da Ilha da Pintada, ele viu dez embarcações afundarem. 'Meus colegas perderam barcos, motores e equipamentos de pesca', lamentou.
O drama dos 500 pescadores que vivem na Pintada é agravado pela ausência de um porto adequado. O que existe são pequenos trapiches improvisados que não suportam rajadas de vento como as verificadas no início do mês. 'Em 60 anos nunca tinha passado por situação tão assustadora, mas consegui evitar que meu barco estourasse nas pedras', disse. Por conta do ciclone, foram 72 horas sem luz e água potável.
Na Ilha Grande dos Marinheiros, os problemas são tantos que os moradores se confundem no momento de estabelecer prioridades. Implantação de redes de água potável, extinção de ratos e pavimentação figuram entre as necessidades. O presidente da Associação dos Moradores, Carroceiros e Papeleiros, Venâncio Castro, lembrou que a situação piora no outono e no inverno, quando a chuva não vem sozinha. Com ela, chegam alagamentos, barro e ratos e insetos que invadem as casas. Segundo ele, as famílias estão impedidas de aterrar os pátios – principalmente as ribeirinhas – justamente por residirem em área de proteção ambiental.
A dona de casa Jurema Alves Salvado, 49, sonha com 'a água encanada'. Enquanto não consegue, ela lava as roupas da família nas águas do Guaíba. 'Viver desse jeito é um castigo', observa.
(Por Luciamen Winck, Correio do Povo, 12/05/2008)