O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, saiu em defesa da produção de arroz na reserva Raposa/Serra do Sol (RR), cuja demarcação é objeto de disputa no Supremo Tribunal Federal. A reserva concentra 70% da produção de arroz do Estado e cresceu 40% na gestão Lula, dizem rizicultores.
"A produção está concentrada na região norte do Estado, coincidente com a recém-demarcada área indígena", observou Stephanes. Roraima produziu, na última safra, 152 mil toneladas de arroz. Isso corresponde a 1,3% da produção nacional, segundo o IBGE. Na região Norte, segundo ele, a participação de Roraima chega a 12%. Essa produção, destaca Stephanes, tem "grande relevância" no abastecimento de Amazonas, Pará e Acre.
Sem querer entrar diretamente em confronto com Lula, que defende a demarcação contínua da reserva, o ministro da Agricultura disse ver risco na retirada de arrozeiros da área.
A oferta regional de arroz só não será comprometida, diz o ministro, se a área definida pelo Incra para o deslocamento dos produtores locais tiver "características agronômicas próprias à produção do cereal e adequada infra-estrutura".
Relatório da Embrapa mostra quase 3.000 hectares de áreas livres e aptas para a agricultura no Estado. Aliados de Paulo César Quartiero -prefeito de Pacaraima e líder arrozeiro preso na última terça- resistem a sair da reserva indígena.
Nelson Itikawa, vice-presidente da Associação dos Arrozeiros de Roraima, aponta o território indígena como a principal fronteira agrícola do Estado. "Fora da reserva, não há áreas adequadas ao cultivo do arroz irrigado, e a nossa meta é aumentar a área plantada ali em 20% ao ano. E a gente tem conseguido mais ou menos isso nos últimos anos".
Segundo os produtores, a área plantada no Estado passou de 15 mil hectares para 24 mil hectares apenas no governo Lula. A produção passou de 84 mil toneladas para 152 mil toneladas no período. O crescimento das plantações dentro da reserva ocorreu mesmo após a homologação de Raposa/Serra do Sol, disse Itikawa.
Segundo ele, nos últimos três anos as terras passaram a ser usadas também para o cultivo de soja. As plantações já alcançariam 3.000 hectares. E haveria ainda 30 mil cabeças de gado na área. Stephanes mostrou simpatia à proposta feita em 2004 por comissão externa da Câmara. Relatório assinado pelo então deputado petista e atual prefeito de Nova Iguaçu (RJ), Lindberg Farias, defendeu a exclusão de 12 mil hectares para as plantações de arroz.
(Por Marta Salomon, Folha de São Paulo, 12/05/2008)