O inseticida DDT, proibido há décadas em grande parte do mundo, ainda contamina pinguins na Antártida, possivelmente devido ao acúmulo do produto em geleiras que estão derretendo, disse uma importante ornitóloga na sexta-feira. Os pingüins de Adélia, conhecidos pelo andar cambaleante e pelo hábito de fazer ninhos em rochas, há muito apresentam traços de DDT em seus tecidos adiposos, embora não em concentrações nocivas, segundo Heidi Geisz, do Instituto de Ciência Marinha de Virginia (EUA).
Mas os pesquisadores ficaram surpresos por descobrirem que o nível de contaminação não diminuiu, embora o DDT esteja proibido desde a década de 1970 para uso externo em diversos países. A contaminação dos pingüins já é conhecida desde 1964. Em artigo na revista Environmental Science & Technology, Geisz e seus colegas lembraram que poluentes orgânicos como o DDT se acumulam e se tornam concentrados no ecossistema antártico.
"Eles na verdade viajam pela atmosfera [...] em direção às regiões polares, por um processo de evaporação e posterior condensação em climas mais frios", explicou Geisz. A presença do DDT teve forte declínio nos últimos dez anos no Ártico, mas continua estável entre os pingüins de Adélia, segundo o estudo. A pesquisadora acrescentou que o DDT é facilmente encontrável na água de geleiras em derretimento, que é justamente o habitat do krill, minúsculo crustáceo que serve de base à alimentação dos pingüins de Adélia.
Geisz disse que o inseticida não provoca danos aos pingüins, mas sua concentração pode ser aferida em amostras colhidas em animais mortos e ovos abandonados. Algumas aves de rapina que ingerem DDT, especialmente a águia americana, produzem ovos com casca excepcionalmente fina, que são facilmente esmagados por animais adultos. Mas Geisz disse não haver provas de que isso acontece também com aves marinhas.
Uma questão mais premente para os pingüins de Adélia, segundo ela, é o aquecimento global. Afinal, eles vivem na Península Antártica, que se prolonga em direção à América do Sul e está esquentando em um ritmo muito mais acelerado do que o resto do continente austral. Por isso, segundo ela, "vemos mais neve e mais umidade, e esses ovos [dos pingüins] estão ficando encharcados e congelados. Isso permite que gente como eu estude os ovos, mas não necessariamente é o ideal para os pingüins."
Originalmente desenvolvido como um pesticida de espectro amplo, o DDT foi muito usado durante a Segunda Guerra Mundial para eliminar o mosquito da malária de ilhas do Pacífico Sul onde havia tropas norte-americanas. Na Europa, era usado contra piolhos. Os EUA proibiram o produto em 1972, e vários países também fizeram o mesmo. Mas em 2006 a Organização Mundial da Saúde aprovou seu uso dentro de lugares fechados para o combate à malária.
(Por Deborah Zabarenko, Reuters, 09/05/2008)