A cerimônia de abertura da III Conferência Nacional do Meio Ambiente, no auditório do Centro de Eventos Ulysses Guimarães, quarta-feira à noite (07/05), não teve a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como era esperado, mas contou com 11 ministros prestigiando o evento, que teve como estrela da noite a Ministra Marina Silva, com um longo e veemente discurso. Antes, ela e todos os presentes foram surpreendidos, na saudação do secretário de Meio Ambiente da CUT, Temístocles Marcelos, que apontou a ministra como candidata ideal à presidência da República, sugestão aplaudida com entusiasmo pela platéia, de cerca de 3 mil pessoas.
O secretário geral da presidência da República, ministro Luiz Dulci, ao discursar disse que, entre os possíveis candidatos, é simpático à possibilidade de Marina Silva, ser a escolhida para concorrer. No seu discurso, Marina Silva não tocou no assunto, e ao ser indagada sobre a possibilidade de uma candidatura presidencial, na entrevista após a cerimônia, apenas sorriu e encerrou a conversa. “Já é complicado tocar um ministério, imagine”, apenas comentou, a um admirador que tocou no assunto à sua saída. Foi o principal tema das rodas de bate-papo que se seguiram.
Contribuição do Brasil
A conferência deste ano tem como tema as mudanças climáticas e, segundo ela, o Brasil já vem dando uma grande contribuição à mobilização mundial contra o aquecimento global e os seus impactos no clima. Primeiro, porque nos últimos 30 anos o país deixou de emitir 600 milhões de toneladas de CO2 (dióxido de carbono) com sua política para o álcool combustível, e menos meio trilhão de toneladas de CO2 nos últimos três anos com a redução de desmatamentos, o que significa 14% do total que os países ricos deveriam reduzir nas suas emissões até 2012.
“Isso é apenas o começo, não é motivo para nos acomodarmos”, ressaltou. O Brasil ainda pode colaborar muito com energias limpas, com seu potencial para energia eólica, da biomassa, solar, e a partir dessas fontes atingir suas metas de redução de emissões, sem prejuízo para sua capacidade de desenvolvimento e crescimento, acrescentou. “É um desafio político, mas sobretudo civilizatório, temos que repensar a nossa forma de produzir, de consumir e a destinação dos resíduos que produzimos ao consumir”.
Produção de Alimentos e Biodiesel
Para a ministra, existe sim o risco da produção de alimentos ser prejudicada com a produção de biocombustíveis, mas ela garantiu que isso vai ser contornado com o zoneamento agrícola do país, que está sendo elaborado em conjunto pelos ministérios do Meio Ambiente e Agricultura, e o zoneamento ecológico ambiental. O Brasil ainda tem 50 milhões de hectares próprios para agricultura intactos e nenhuma árvore precisa ser derrubada na Amazônia ou em qualquer lugar para produção de combustíveis, garantiu.
“Temos que fazer o gerenciamento agrícola e o gerenciamento ecológico-econômico, não plantar cana na Amazônia, produzir com sustentabilidade econômica, ecológica, ética e política”, discursou. A prevenção e enfrentamento das mudanças climáticas, continuou, passa também pela consideração do chamado saber narrativo das populações locais, que têm seu conhecimento ancestral associado aos recursos e processos naturais e são uma boa chave para resolver problemas como a adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
Taxa sobre o Lucro do Petróleo
Ainda sobre isso, ela explicou na entrevista que o governo está elaborando um projeto, para ser enviado ao Congresso Nacional, destinando recursos dos lucros do petróleo para ações em vários setores da economia e da sociedade, visando mitigações e adaptações às mudanças climáticas. Já existe hoje uma lei, pela qual o setor destina parte dos lucros para situações de desastres ambientais causados pelo petróleo, em derramamentos, por exemplo. O projeto ampliaria a aplicação da verba oriunda dessa taxa.
Apesar da grande presença de ministros, numa demonstração de apoio à ministra, foi sentida a ausência dos representantes da área econômica, que está no centro das questões ambientais quando se debate desenvolvimento, crescimento e sustentabilidade. Mas, conforme Marina Silva, eles estavam numa reunião no Palácio do Planalto discutindo medidas econômicas que devem ser anunciadas hoje, para um plano de desenvolvimento sustentável da Amazônia. “Os (ministros) que não estavam aqui estavam trabalhando por nós, no palácio, eu própria estava na reunião e tive que me ausentar para estar aqui na abertura”, declarou.
(Por Ulisses A. Nenê, EcoAgência, 08/05/2008)