Para reduzir os impactos das mudanças climáticas no Brasil e garantir que as populações mais vulneráveis se adaptem às possíveis transformações no sistema climático, é preciso antes detalhar as conseqüências do aquecimento global sobre os ecossistemas do país, de acordo com representantes do governo e da sociedade civil, que participam da 3ª Conferência Nacional do Meio Ambiente.
“O IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática] tem seus modelos, mas são modelos de larga escala, o que nós estamos tentando fazer é buscar aprofundar, melhorar a nossa capacidade de projetar as vulnerabilidades dos vários sistemas aos potenciais impactos que a mudança do clima poderia trazer [para o Brasil]”, defendeu a secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Thelma Krug.
Entre as conclusões que o painel de cientistas das Nações Unidas apresentou em 2007, em seu quarto relatório, estão cenários que prevêem a savanização da Amazônia (a floresta passaria a ter estrutura semelhante a do cerrado) e a transformação do semi-árido nordestino em deserto.
De acordo com a secretária do MMA, um dos eixos da Política Nacional de Mudança do Clima, que deve ser enviada ao Congresso este ano, trata especificamente do estímulo a atividades de pesquisa e desenvolvimento relacionadas às transformações climáticas. “É fundamental que a gente conte com o apoio de pesquisas muito específicas e modelos muito específicos para o Brasil, que mostrem um perfil mais preciso sobre o nosso território”, avalia.
A recém-criada Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais – Rede Clima foi citada pelo representante do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, professor Marcos Freitas, como uma das ações fundamentais para subsidiar a elaboração das políticas públicas sobre o assunto.
A necessidade de integração entre a ciência e a realidade das populações diretamente afetadas pelos possíveis efeitos das mudanças climáticas também foi apontada pelo coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Gecinaldo Sateré-Maué. “É preciso uma unificação entre a academia, a ciência, o capital privado e os governos e para que a gente realmente faça uma grande revolução para salvar o nosso planeta”, sugeriu.
O líder indígena listou as recentes secas na Amazônia e a mudança no intervalo de ciclos biológicos, como o início da piracema, entre os “fatos concretos” identificados pelas populações tradicionais como conseqüências do aquecimento do planeta. “A natureza já começa a mostrar fúria, isso tem que trazer uma reflexão muito grande sobre o futuro do nosso planeta. E as populações indígenas também sofrem junto com o mundo esses impactos.”
(O Dia, 08/05/2008)