Eike Batista, ex-marido de Luma de Oliveira, declarou a jornalistas e empresários que quer parte da reserva indígena em Roraima, pois os seus filhos com Luma têm 17% de sangue de índio. Reivindica direitos. Na cabeça desse cara índio não é gente, é bicho. Como negro, pobre, ou quem não se submete à ditadura do mercado no padrão botox, personal trainer e contrato de casamento com mulher bonita.
Eike, como a totalidade dos grandes empresários brasileiros, é brasileiro por um detalhe. O nascimento dentro do território que chamamos Brasil. Fora isso faz parte de uma elite apátrida e devastadora, sem nenhum escrúpulo ou caráter que não seja o dinheiro, na amoralidade dos valores que instituíram como mundo real.
As declarações do empresário somam-se ao "patriotismo" do general Augusto Heleno, amigo do juiz Lalau e ao relatório "antiterrorismo" do governo da matriz, distribuído à imprensa em Washington. O líder do IV Reich reclama da Venezuela que não "ajuda os EUA no combate ao "terrorismo" por estreitar suas ligações com o Irã e a Síria". Estão buscando provocar um incêndio. Eike tem interesses na região, mesmo tendo perdido negócios na Bolívia. Evo Morales suspendeu um projeto do pai dos indiozinhos de Luma, em nome da soberania boliviana e para evitar a devastação de uma área de floresta.
A súcia de empresários que se apossou do País desde o governo FHC não tem pátria e nem tem compromissos com o ser humano exceto se lhes for conveniente. No mais é gado que sobe e desce nos elevadores e anda tonto à procura de um tênis de marca no final de cada mês, à espera do término do prazo de validade. É um rebanho encaçapado diariamente nas mesas da sinuca iluminada por luzes de cores variadas e dispostas por profissionais.
Esse tipo de declaração irônica, preconceituosa é desprezível. Abjeta. Em qualquer lugar decente do mundo Eike Batista seria preso e processado por racismo, crime inafiançável. É preciso chamar mais que bombeiros para apagar o incêndio. É preciso atitude. Toda essa pantomima patrocinada pela mídia foi alvo também de declarações do ministro Gilmar Mendes quando tomou posse de uma instituição que outrora se chamava Supremo Tribunal Federal.
É como uma orquestra afinada ou como uma bateria de escola de samba. Na orquestra o spala é o ponto de partida do maestro, digamos assim, na bateria um bikini com a inscrição "Eike te amo" faz parte do contrato que essa gente gosta de celebrar com mulheres bonitas para mostrar o poder. Incorporar ao patrimônio. É um modelo podre e termina em calendário.
Eike Batista não manteria uma única de suas empresas em funcionamento na Europa, por exemplo. É um predador. Quem disse que os dinossauros foram extintos? Ganharam hoje a forma da tecnologia devastadora do capitalismo e têm características de selvageria muito maior que qualquer tiranossauro rex que Spielberg possa construir em computadores de última geração.
O ataque de "patriotismo" do general Augusto Heleno, a repercussão forçada de suas declarações na mídia, a nota de grupos de oficiais sobreviventes da ditadura militar, a fala de Eike, o discurso de Gilmar Mendes criticando a política indigenista do governo sendo, supostamente, um juiz, só supostamente, é líder tucano no STF, são como que a bateria da escola de samba. Uma pena que afinada na direção das marchas militares que relembram o período da barbárie, hoje com outras formas.
Um samba atravessado e que não é dançado, é marchado conduzindo a boiada ao matadouro. Dispõem das armas mais refinadas, sofisticadas, vendidas em pacotes pelas redes nacionais de televisão, pela mídia engana classe média (VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO, o monarquista ESTADO DE SÃO PAULO, etc, etc).
Ao falar o que falou o empresário Eike Batista, cuja família ao longo da história construiu um império montado no dinheiro público através de favorecimentos e empréstimos de organismos oficiais (a grande empresa privada cresce assim, na forma de incentivos, dinheiro do BNDES, no Estado privatizado, mercado é só para o lucro), mas ao falar assim, o empresário debocha de um segmento de nossa civilização, exclui os índios do direito a vida, a terras.
Faz parte do time que ainda quer que todos sejamos consumidores de etanol, de transgênicos, dos minérios que retira do subsolo brasileiro e transforma em lucro cumulativo à custa da exploração de trabalhadores (trabalho escravo), das siderurgias que vai destruindo florestas, vida. Eike Batista é só um criminoso com a atividade legalizada e acobertada por figuras como o general Heleno, como Gilmar Mendes, encostado no enclave FIESP/DASLU (um bilhão sonegados).
Não difere em nada por nada de qualquer Marcola ou Beira-mar. Tenho sérias dúvidas sobre quem seria menos ruim. A ofensa de Eike aos índios lembra os ovos podres de Boninho, que é amigo dele, atirados nas "vagabundas" exploradas nas empresas/quadrilhas que ostentam Brasil afora na junção dos capitais dos grandes bordéis da globalitarizados e os colonizados.
O que espanta é que o governo Lula assiste a isso tudo inerte e sem perceber que essa conversa de PAC e PPP termina no loteamento do Brasil entre os grandes empresários, o latifúndio, num Estado privatizado e falido que marcha para gerar a mais injusta ordem social possível. Um país onde Daniel Dantas, Eike Batista, Paulo Stak, Fernando Henrique Cardoso, os norte-americanos Augusto Heleno e Henry Meireles (presidente da filial brasileira do Banco Central dos EUA) definem e decidem o que pode ser bom ou ruim e Artur Virgílio vira porta-voz no Senado (existe esse trem, ou é nome de alguma boate/bordel?) não sobrevive.
Num país onde Ermírio de Moraes grila terras, usa pistoleiros para intimidar e ocupar áreas de trabalhadores e quilombolas, ou onde a VALE toma parte do território nacional tem que ser classificado no nível de país precioso para o investimento.
Investimento de quem? Das quadrilhas internacionais às quais esses patriotas paladinos da ordem, da moral e do progresso (deles) pontificam na bateria de uma escola que não dá samba. Dá curto circuito, termina em incêndio e é preciso chamar bombeiros para apagar o fogo.
Que eu me lembre, desafinados, só João Gilberto, magistral numa afinação única, ou a viola de Sérgio Ricardo, sete cordas e que Glauber Rocha pediu que uma delas fosse desafinada para compor uma das mais belas trilhas sonoras de toda a história do cinema, "Deus e o diabo na terra do sol". Essa bateria não de cuícas, ou tamborins. É de canhões disparados contra o Brasil.
(Por Laerte Braga *, Adital, 06/05/2008)
* Jornalista