Pistoleiros destruíram lavouras, escola e até igreja, utilizando caminhão semelhante ao “caveirão” Na madrugada desta quinta-feira, 08/05/2008, uma milícia privada atacou o acampamento do Movimento de Libertação dos Sem Terra - MLST, com mais de 150 famílias, localizado na BR 369, entre os municípios de Cascavel e Corbélia.
O ataque começou às 4h da manhã, quando homens fortemente armados invadiram o acampamento Primeiros Passos, com tratores e retro-escavadeiras, destruindo toda a plantação e estruturas do acampamento, inclusive uma escola e uma igreja. A milícia também chegou em um caminhão que possuía uma grade de ferro conhecida como quebra-mato, utilizada para destruir os barracões, e uma carroceria blindada e com pequenas janelas de onde efetuavam os disparos, uma espécie de “caveirão” - um verdadeiro caveirão do agronegócio.
Mesmo com a chegada da Polícia, a milícia continuou o ataque. Com a chegada de reforço dez pistoleiros foram presos em flagrante. Dentre elas estava Luciano Gomes Resende, um dos seguranças da empresa NF, que também presta serviços à Socieade Rural do Oeste do Paraná, acusado pelo ataque ao acampamento do MST na Fazenda da Syngenta, em outubro de 2007, onde foi assassinado o camponês Valmir Mota de Oliveira, e pelo despejo ilegal do acampamento do MLST na Fazenda Gasparetto, em abril do ano passado.
A região de Cascavel já é conhecida pela violência contra camponeses praticadas por esta milícia, todavia, a certeza da impunidade, já demonstrada nos outros casos, fez com que as ações se tornassem mais ousadas e planejadas, inclusive com o uso de instrumentos mais sofisticados para as ações de destruição dos acampamentos e de terrorismo contra camponeses.
As reiteradas violações de direitos humanos praticadas contra os trabalhadores rurais sem terra na região de Cascavel está sendo alvo de indignação das entidades da sociedade civil e da Igreja. O Arcebispo da Arquidiocese de Cascavel, Dom Mauro Aparecido dos Santos foi até o acampamento prestar solidariedade às famílias e exigiu que os fatos fossem apurados e os mandantes responsabilizados :“vim até o local constatar o que aconteceu para que depois possamos cobrar dos órgãos responsáveis uma providência concreta. Não podemos deixar que esse fato de desrespeito a pessoa humana e as leis seja esquecido. Não podemos permitir que o Paraná se torne uma terra onde o que vale é a lei da bala e funcionários de empresa de segurança escondem a cara dos verdadeiros mandantes”, declarou.
Os agricultores, vítimas do ataque, passaram o dia sendo ouvidos pela polícia civil de Cascavel, enquanto 10 integrantes da milícia permaneciam presos. Numa demonstração de força e afronta mais de 20 fazendeiros foram até a Delegacia para pressionar a polícia. As famílias que tiveram seus barracos destruídos permanecem no acampamento Primeiros Passos, próximo à Fazenda Bom Sucesso, de Orlando Carneiro, temendo que possam ser atacadas novamente. A Secretaria de Segurança Pública do Paraná prometeu que vai manter policiais no local.
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Instituto Humanitas Unisinos, 09/05/2008)