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captura de carbono
2008-05-09

Uma técnica agrícola conhecida há milhares de anos pelos índios da Amazônia está sendo resgatada e avaliada como uma alternativa para lidar com o aquecimento global. A prática de adicionar o carvão resultante da queima de matéria orgânica à terra aumenta a fertilidade do solo, a produção agrícola e a eficiência do seqüestro de carbono da atmosfera, além de ser mais uma fonte de produção de energia.
Pelo método mais usual de se capturar carbono, as plantas absorvem o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera pelo processo da fotossíntese. No entanto, quando esses vegetais morrem, são decompostos por microorganismos, que acabam liberando o CO2 novamente no ambiente. Esse ciclo faz com que a remoção do carbono não seja permanente.
A redescoberta de uma técnica chamada de “biochar” ou biocarvão (que na região da Amazônia resultou na conhecida Terra Preta dos Índios) mostra que, quando as plantas são queimadas na floresta, parte do carbono absorvido por elas se transforma em carvão e se torna resistente ao ataque de microorganismos. Dessa maneira, o CO2 fica armazenado no solo por centenas ou milhares de anos.
O biochar é obtido a partir da transformação da biomassa (madeira, plantas, resíduos florestais) em carvão pelo processo de combustão conhecido como pirólise – caracterizado pelo aquecimento na presença de pouco ou nenhum oxigênio. A produção de biochar exige a queima a temperaturas superiores a 400 graus. A pirólise, sem oxigénio, permite reter de 20% a 50% do carbono presente nestes materiais.

Potencial
Um dos maiores defensores dessa idéia é o pesquisador Johannes Lehmann, da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Ele e seus colaboradores estudaram solos agrícolas de civilizações anteriores e perceberam o imenso potencial dessa “terra preta” para seqüestrar de carbono e fertilizar a terra ameaçada pela desertificação.
Na região amazônica Lehmann percebeu que os teores mais altos de matéria orgânica encontrados em alguns locais eram resultado da deposição por centenas ou até milhares de anos de restos vegetais carbonizados, assim como de restos de comida e ossos - o que conferiu aos solos características químicas, físicas e biológicas que os tornam desejáveis do ponto de vista agrícola.
O pesquisador propõe que resíduos de plantas ou plantações voltadas para bioenergia sejam transformados em biochar como uma maneira de estocar carbono. O carvão resultante do processo ainda pode ser queimado para se produzir energia, mas essa prática, diferentemente do enterro do material no solo, não armazena carbono.
Lehmann e seu colega John Gaunt calcularam que o estoque de biochar no solo produz 30% menos energia do que a sua queima, mas evita emissão de CO2 em duas a cinco vezes. A quantidade de carbono poupada com armazenamento de carvão é muito maior do que a que se poderia poupar ao usar o biochar como um substituto para os combustíveis fósseis, explica Lehmann.
“Um consenso geral é de que mesmo que se invista e utilize a maior proporção possível de biomassa para produção de energia, as nossas necessidades energéticas nunca serão supridas. Então, o que a bioenergia pode fazer com a opção do biochar é reduzir emissões e representar carbono fora da atmosfera”, avalia.

Mais estudo
Autores de um artigo publicado na última semana na revista Science descobriram que o carvão pode desencadear atividade microbiana quando misturado a outros componentes do solo - aumentando a liberação de carbono do húmus e compensando benefícios potencias da técnica.
O pesquisador da Universidade Sueca de Ciências Agrícolas, David Wardle, e seus colegas, colocaram pacotes contendo carvão e húmus (meio a meio) em três locais diferentes de uma floresta da Suécia e deixaram o experimento lá por dez anos. Depois desse período, a quantidade de carbono e massa perdidos foi maior nos pacotes que continham a mistura (23%) do que naqueles com componentes individuais (15%).
O carvão possui uma grande área de superfície e absorve bem as moléculas orgânicas, criando um ambiente que acelera degradação do húmus por microorganismos, explica Wardle. “Eu não discordo que o carvão possa ter um grande potencial, mas precisamos reconhecer que ele não fica apenas lá parado”.
“Será muito importante olhar para as implicações do ciclo natural do carbono negro e para o avanço da adição do biochar ao solo como meios de seqüestro de carbono”, afirma Lehmann. No entanto, ele diz que não vê nenhuma evidência que possa alarmá-lo mais do que a idéia de colocar biochar no solo para aumentar a captura de carbono pelo solo. Ele observa ainda que o ambiente da floresta boreal na Suécia possui uma camada mais rica em matéria orgânica para as bactérias se alimentarem do que os solos de agricultura – onde o biochar provavelmente seria acrescentado.

(Por Sabrina Domingos, Carbono Brasil, 08/05/2008)


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