Policiais revistaram e identificaram os sem-terra em acampamento na RS-630
Na madrugada de ontem (08), uma megaoperação da Brigada Militar, com mais de 700 homens de várias cidades do Estado, preparava-se para cumprir um mandado de busca e apreensão na Fazenda São Paulo 2, às margens da RS-630, onde um grupo de centenas de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) está alojado. A ordem judicial, dada pelo juiz José Pedro de Oliveira Eckert, de São Gabriel, pretendia identificar os sem-terra e encontrar armas de fogo, munição e objetos que pudessem ser usados como armas. No final, foram várias apreensões e cinco detidos. Como reação, militantes do MST bloquearam trechos de rodovias no Estado.
O cerco começou a se armar a quatro quilômetros do acampamento dos sem-terra. Policiais militares e homens do Batalhão de Operações Especiais (BOE) e do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) iriam agir a qualquer momento. Todos os trechos da estrada de acesso à Fazenda São Paulo 2 foram bloqueados.
Por volta das 8h, foi dado sinal verde para o começo dos trabalhos. Os policiais rumaram em direção à São Paulo 2. O grupo é o mesmo que invadiu a Fazenda Southall, a 15 quilômetros da São Paulo 2. Ela estava na mira do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para desapropriação, mas foi considerada produtiva. A propriedade foi invadida em 14 de abril e desocupada quatro dias depois, por ordem judicial. Na ocasião, os sem-terra deixaram a área depois da garantia de que não seriam revistados e identificados. A invasão queria pressionar o governo federal a assentar famílias.
A instalação das famílias na São Paulo 2 foi em caráter provisório. Segundo a assessoria de imprensa do Incra, a fazenda deve ser transformada em assentamento.
A ação - Quando foi liberado o acesso da imprensa até a fazenda, quase duas horas depois do início das atividades, os militantes do MST já estavam sendo revistados.
- Antes, cercamos o lugar. O mandado foi lido e demos um tempo para eles se organizarem - explicou o subcomandante geral da Brigada, Paulo Roberto Mendes.
Homens foram colocados de um lado, e mulheres e crianças, de outro. Enquanto aguardavam para fazer a identificação, alguns acampados não gostaram da atitude dos policiais com um militante que estava mais exaltado. A situação ficou só na agressão verbal. Mesmo com o incidente, o ouvidor-geral da Segurança Pública do Estado, Adão Paiani, garantiu que tudo aconteceu de forma tranqüila. A advogada do movimento, Cláudia Ávila, que estava no local, discordou:
- É uma atrocidade o que está sendo feito aqui.
Conforme o coronel Mendes, a justificativa para todo o aparato utilizado foi para a "segurança de todos".
Estrutura
Além dos mais de 700 policiais, foram usados cães e um helicóptero. O aparato incluiu três antenas de comunicação via satélite, laptops e impressoras, que possibilitaram a identificação mesmo de quem não tinha documentos. Tudo ao ar livre e alimentado por um gerador.
Por volta das 13h, vários policiais começaram a se retirar da São Paulo 2. Mesmo assim, a identificação dos sem-terra continuou. No retorno, ruralistas que estavam na RS-630 saudaram o coronel Mendes, que desceu do carro para cumprimentá-los.
- Gostaríamos de ter assistido. - afirmou a vice-presidenta do Sindicato Rural de São Gabriel, Roselba Mozzaquatro.
Depois de identificados, os sem-terra foram liberados. Por enquanto, eles ficam no mesmo acampamento.
Visita
Por volta das 12h45min, a Brigada Militar recebeu uma determinação judicial que autorizou a entrada do deputado federal Adão Pretto (PT), do assessor técnico do Incra Leonardo Melgarejo e do ouvidor-geral da Segurança Pública do Estado, Adão Paiani, que já estava no local. O acesso da imprensa foi supervisionado por um policial militar, que orientava repórteres e fotógrafos. Os ruralistas não puderam entrar na Fazenda São Paulo 2
(Por Homero Pivotto Jr., Diário de Santa Maria, 09/05/2008)