A aceleração da inflação e as penúrias de energia que vêm se tornando cada vez mais fontes de embaraços conduziram a China a promover uma revisão da sua estratégia em matéria de desenvolvimento dos biocombustíveis: em julho de 2007, a Agência de Planificação passou a implementar um Plano agrícola para os biocombustíveis, que prevê a suspensão dos projetos de produção de bioetanol a partir de milho e uma reorientação progressiva em favor de uma produção a base de plantas açucareiras.
O sudoeste da China, que beneficia de um clima favorável para culturas desta natureza, e que é relativamente pobre e pouco povoado, foi escolhido para desempenhar um papel decisivo na execução deste projeto. O Yunnan está aguardando a aprovação pelo governo central, em junho, de um plano destinado a impor a incorporação de bioetanol à altura de 10% na gasolina que é distribuída na província.
"O objetivo é de fazer com que o Yunnan se torne, daqui a vinte anos, o principal fornecedor de energias verdes na China", explica, em Kunming, Wu Jun, um dos oficiais da província encarregados da política econômica. Ele prevê que o Yunnan produzirá 2 milhões de toneladas de bioetanol em 2010, ou seja, a mesma quantidade que está sendo produzida na China inteira atualmente. Segundo ele, incontáveis superfícies virgens ou não cultivadas poderão atender a esses ambiciosos objetivos de produção. Além disso, devem ser acrescentadas à produção local importações do Laos e do Camboja, onde companhias chinesas são proprietárias de concessões.
As regiões subtropicais do sul do Yunnan, cujo relevo apresenta importantes contrastes, permitem, dependendo da altitude, a cultura da mandioca, da cana-de-açúcar e da batata doce. Na teoria, nenhuma cultura alimentícia corre o risco de ser substituída em proveito da produção de biocombustíveis. "A Agência de Planificação quer se assegurar de que não haverá impacto algum sobre o setor alimentício", diz Li Shihuang, um oficial encarregado da agricultura para o condado de Yuangyang, uma região conhecida pelas suas paisagens de arrozais em terraços. "Em certos lugares, nós iremos substituir o milho pela mandioca, mas o milho, aqui, é produzido em pequenas quantidades, pois a sua utilização é estritamente local, destinada à alimentação dos porcos. Ora, os resíduos de mandioca podem muito bem substituí-lo para esta finalidade".
"Créditos carbono"
Aqui, 95% dos habitantes são camponeses. A principal indústria local á a fábrica de açúcar Hongtai, que fornece trabalho, direta ou indiretamente, para 80% dos habitantes de Yuangyang, conforme explica Li Shihuang. Uma antiga companhia estatal que foi cedida em 2004 ao seu diretor, incentivada pelo vice-governador da província, a Hongtai resolveu, em 2006, adotar um programa mais ambicioso, investindo na instalação de uma unidade de bioetanol. Contudo, as dívidas que ela contraiu para este investimento prejudicaram duramente a sua saúde financeira, a tal ponto que a usina não teve condições, neste ano, de remunerar os camponeses no momento da colheita de mandioca, por falta de dinheiro em caixa.
"Esta região é muito pouco industrializada e, para uma pequena sociedade como a nossa, é muito difícil obter empréstimos na China. O governo local não dispõe dos meios para nos ajudar", diz o proprietário, Li Yuexing. Ele está tentando obter um empréstimo da Proparco, uma instituição financeira que depende da Agência Francesa para o Desenvolvimento, que tem por missão ajudar no financiamento dos países em desenvolvimento.
O dossiê está sendo examinado no quadro do processo de atribuição de "créditos carbono", um mecanismo de compensação que permite que os países em desenvolvimento, entre aqueles que não estão comprometidos com as obrigações do Protocolo de Kyoto, empenhem esforços em matéria de redução dos gases de efeito estufa. A China, o maior emissor mundial de CO2, é o principal país no mundo a ser beneficiado por este protocolo.
"É um tanto redutor atribuir os aumentos atuais dos preços dos alimentos unicamente aos biocombustíveis", considera Paul de la Guérivière, um representante para a China da Proparco. "Como provas disso, nós temos o aumento do preço do arroz, que não pode encontrar a sua justificação nos biocombustíveis, ou ainda a estagnação do preço do açúcar, ao passo que a demanda de bioetanol deveria ter empurrado o seu preço para o alto". Muito além dessas tensões que são em parte especulativas, constata, "continua sendo essencial desenvolver os setores de produção de biocombustíveis que não entrem em competição com os dos alimentos e que não diminuam a biodiversidade. Há espaço suficiente para tanto e soluções existem. É o que nós estamos procurando".
(Por Brice Pedroletti, Le Monde, tradução de Jean-Yves de Neufville, UOL, 09/05/2008)