Ao menos 1,5 milhão de pessoas em Mianmar foi "severamente afetada" pelo ciclone Nargis, afirmou o chefe da ONU para questões humanitárias, John Holmes, nesta quinta-feira (8). A rádio estatal de Mianmar, fonte oficial de vítimas, afirma que 22.980 pessoas morreram, outras 42.119 estão desaparecidas e 1.383 ficaram feridas no ciclone mais mortal desde a tempestade que atingiu Bangladesh em 1991, matando 143 mil.
O Nargis atingiu Mianmar no último sábado (03) e a maioria dos mortos foi vítima de uma onda de cerca de 3,5 metros. Um diplomata americano em Mianmar afirmou que pode haver mais de 100 mil mortos. Falando a jornalistas na sede da ONU, Holmes disse que ele estava decepcionado com a lentidão com que os funcionários da ONU e os bens de primeira necessidade estão chegando a Mianmar desde quarta-feira e descreveu a cooperação com as autoridades do país como "inconsistente" e "ainda extremamente insatisfatória".
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, planeja falar diretamente com o mais alto general da junta que comanda o país, Than Shwe, para persuadi-lo a remover os obstáculos, acrescentou Holmes. Ban pretende "instá-lo fortemente a facilitar o acesso e nos permitir a fazer o trabalho que temos de fazer", afirmou.
Holmes disse que dois membros de uma primeira equipe de avaliação do desastre tiveram permissão para entrar no país, mas outros dois que tentavam entrar com documentos da ONU haviam sido recusado quando chegaram ao aeroporto do país. Todos os quatro são de países da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático) com acordos de visto com Mianmar. "Essa não é uma situação aceitável", disse Holmes, acrescentando que os documentos "laissez-passer" da ONU devem ser o suficiente para garantir o acesso, particularmente em uma situação de crise.
"Isso é extremamente decepcionante", declarou, reiterando o pedido para que especialistas no auxílio pós-desastre possam entrar em Mianmar. Não está claro porque o governo está restringindo a entrada de funcionários da ONU. "As autoridades não deram nenhuma explicação de quais são suas preocupações", disse Holmes, acrescentando que a junta militar que governa Mianmar é um regime "isolado e suspeito".
(Folha Online, Ambiente Brasil, 09/05/2008)