Um número indeterminado de pessoas já morreu por cólera nas zonas devastadas pelo ciclone "Nargis" em Mianmar, onde milhares de cadáveres continuam empilhados ou flutuam nas águas contaminadas após o desastre. Testemunhas no delta do rio Irrawaddy informaram hoje que foram registradas as primeiras vítimas por cólera nas regiões de Bogalay e Laputta, duas das mais devastadas pela tempestade que assolou no sábado passado o sul do país.
Os desabrigados estão há dias sem água potável e diante da forte sede, chegam a beber água de rios e lagoas onde apodrecem corpos de seres humanos e animais, sem se importar com o risco de contrair doenças. Enquanto a ajuda internacional chega a conta-gotas por conta dos impedimentos da Junta Militar, os sobreviventes não dispõem de suficientes remédios para fazer frente a possíveis epidemias de cólera, dengue, diarréia crônica ou malária, que têm seu foco de proliferação em águas paradas.
As doenças, a sede e a fome são agora as maiores ameaças para o milhão e meio de desabrigados, segundo os dados das Nações Unidas, enquanto os números oficiais apontam para 23 mil mortos e mais de 42 mil desaparecidos. Por outra parte, as autoridades se vêem impotentes para recolher os milhares de cadáveres amontoados ou que flutuam na lama, inchados pelo calor e a umidade, alguns deles em avançado estado de decomposição.
Os residentes fazem turnos para cremar os corpos segundo o rito tradicional birmanês, mas são tantos que a força-tarefa não chega a queimar nem 40 por cada dia. No entanto, desde que ocorreu a tragédia, os meios de comunicação locais, todos controlados pelo Ministério de Informação e Apuração da Imprensa, continuam ocultando da população a gravidade e a magnitude do desastre.
(Terra, 08/05/2008)