A polícia e o Exército do Chile aceleraram o processo de evacuação das últimas pessoas que resistiam a deixar áreas próximas ao vulcão Chaitén, com nuvens de cinzas chegando hoje a Buenos Aires. A nova emissão do vulcão, em erupção desde 2 de maio, ocorreu pouco antes da meia-noite local (1h de Brasília de hoje) e foi acompanhada de fortes ruídos subterrâneos, disse à "Rádio Cooperativa" Juan Callupi, vulcanólogo do Departamento Nacional de Emergência (Onemi), órgão ligado ao Ministério do Interior chileno.
A erupção durou cerca dez minutos. Depois, a montanha, de 960 metros de altitude, "se acalmou", acrescentou Callupi. A possibilidade de o material incandescente expelido se expandir em alta velocidade por regiões próximas levou o governo a ordenar, no início desta semana, a evacuação total de moradores em um perímetro de 50 km do vulcão.
Calcula-se que oito pessoas abandonaram a Província de Palena, localizada 1.220 km ao sul de Santiago, mas que dezenas ainda resistiam a abandonar suas casas ou animais, escondendo-se das patrulhas que percorrem a área para levá-los a outros locais. Por essa razão, as autoridades recorreram à Justiça --mediante um recurso de proteção que foi amparado pela Corte de Apelações da cidade próxima de Puerto Montt-- para obrigá-los a deixar a área.
"Obstinados"
Patrulhas de Carabineiros (polícia militarizada) percorreram hoje áreas próximas ao Chaitén e algumas propriedades rurais em busca dos "obstinados", como foram classificados os que resistiam a abandonar suas casas pelo ministro do Interior chileno, Edmundo Pérez Yoma. O chefe dos Carabineiros, José Bernales, disse que embora seja difícil dar números exatos, na primeira metade do dia ainda foram encontradas cerca de 20 pessoas nas áreas próximas ao Chaitén.
Outras 35 foram auxiliadas pelo pessoal do Exército a deixar a região após a erupção desta madrugada, que obteve grande visibilidade pela emissão, segundo especialistas, de gases ionizados que produzem efeito de raios e relâmpagos. Alguns relatórios publicados na imprensa local falam em 130 pessoas resistindo à evacuação fomentada pelas autoridades, mas Bernales expressou confiança de que até o fim do dia não restará ninguém dentro dos limites de segurança traçados.
Mascotes
A grande vigilância na região frustrou hoje o propósito de uma organização de defesa dos animais que se propunha a retirar da cidade de Chaitén dezenas de mascotes, principalmente cachorros e gatos, que foram abandonados por seus donos. A atriz americana Daryl Hanna, que realiza visita ao Chile para divulgar uma campanha de proteção a cachorros de rua, fez hoje um apelo para que os "cachorros de Chaitén sejam salvos".
Enquanto isso, o governo chileno anunciou hoje o perdão de dívidas tributárias e a liberação do pagamento de impostos territoriais urbanos aos habitantes da Província de Palena. Essa última medida será colocada em prática por pelo menos quatro anos, disse a ministra interina da Fazenda, María Olivia Recart. A presidente chilena, Michelle Bachelet, reiterou em Santiago agradecimentos a sua homóloga argentina, Cristina Fernández de Kirchner, pela solidariedade demonstrada por causa da erupção.
Bachelet
"Estou extremamente agradecida à Argentina e especialmente à presidente Cristina Fernández", disse Bachelet a jornalistas depois de se reunir no Palácio de la Moneda, sede da Presidência chilena, com o presidente de Moçambique, Armando Guebuza.
Bachelet disse que manteve contato permanente com Cristina desde o início das erupções e confirmou ainda que o ministro da Defesa, José Goñi, se reunirá hoje com o vice-presidente argentino, Julio Cobos, para coordenar ações conjuntas.
A nuvem de cinzas do vulcão Chaitén chegou hoje a Buenos Aires, embora as partículas por enquanto não tenham caído sobre a capital argentina, informou o Serviço Meteorológico local. "Começamos a observar cinza vulcânica gerada no vulcão sobre o céu da cidade de Buenos Aires e seus arredores", disse a entidade oficial em comunicado.
O Serviço Meteorológico indicou que "o céu pode ser visto em um tom acinzentado, produto da presença de cinzas que estão se movimentando de oeste a este". A nuvem de cinzas também afeta grande parte das províncias argentinas de Buenos Aires, La Pampa (centro), Río Negro, Neuquén e Chubut (sul).
(Folha Online, 08/05/2008)