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biocombustíveis desmatamento da amazônia passivos do agronegócio
2008-05-08
O Brasil pretende expandir maciçamente a produção de biocombustíveis, mas os ambientalistas temem os efeitos que isso terá sobre a floresta. O ministro do Meio Ambiente da Alemanha, que visitou recentemente o país, acredita que a demanda por carne barata representa um perigo ainda maior

Quando o ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Sigmar Gabriel, visitou o Centro de Pesquisas da Amazônia em Belém, gritos subitamente sufocaram a discussão sobre os perigos que a floresta tropical enfrenta. "Baixem os preços dos alimentos!", gritou a multidão revoltada enquanto marchava diante do Museu de História Natural Goeldi, acenando bandeiras vermelhas. Naquele momento Gabriel viu com seus próprios olhos por que sua visita ao Brasil é tão explosiva politicamente.

A escassez global de alimentos e a destruição da floresta tropical foram atribuídos recentemente aos biocombustíveis -que foram o foco das negociações de Gabriel com o governo brasileiro durante sua visita de uma semana.

Como um gigante verde, o Brasil quer entrar para o clube mundial de potências energéticas, usando o bioetanol produzido a partir da cana-de-açúcar. Cerca de 70 mil quilômetros quadrados já foram plantados com cana, que cresce rapidamente. Daqui a quatro anos essa área deverá crescer para 120 mil quilômetros quadrados e até 2025 para 210 mil quilômetros quadrados -aproximadamente a área da Grã-Bretanha.

Ou bioetanol deverá tornar o Brasil independente da importação de petróleo e capaz de fornecer 5% das necessidades mundiais de combustíveis. Para um país emergente é uma previsão cor-de-rosa -uma oportunidade de adquirir um lugar na mesa dos grandes e poderosos. Infelizmente, esses sonhos hoje estão ameaçados, pois a euforia inicial sobre os biocombustíveis deu lugar ao ceticismo, e em alguns casos à pura rejeição.

Políticos pró-desenvolvimento temem que a demanda por terra para plantar biocombustíveis esteja diminuindo a produção agrícola e, em conseqüência, fazendo aumentar os preços dos alimentos. Grupos ambientalistas como o Greenpeace Alemanha dizem que, embora a expansão do cultivo de cana-de-açúcar esteja ocorrendo longe da floresta tropical, ainda poderá empurrar a produção de soja e a pecuária para áreas ecologicamente sensíveis. Além disso, os cientistas calcularam que o bioetanol produz mais dióxido de carbono, causador do efeito estufa, do que a gasolina normal.

Defendendo os biocombustíveis
Em Brasília, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, está montando uma defesa dos biocombustíveis. Ela é considerada uma política com muita credibilidade, alguém que conhece as necessidades dos pobres. Afinal, ela mesma nasceu nas circunstâncias mais pobres e só aprendeu a ler e escrever na adolescência.

A proteção da floresta tropical está perto de seu coração. Como filha de um seringueiro, ela cresceu na floresta. O líder de sua organização de proteção à floresta, Chico Mendes, foi morto em conseqüência de suas atividades.

Silva apresentou a Gabriel dados que fazem o bioetanol parecer verde, e garantiu que o governo não está trapaceando nos números. A expansão do cultivo de cana-de-açúcar está sendo estritamente regulamentada, ela disse, de modo que os campos não sejam sacrificados e o plantio ocorra principalmente em pastos depauperados.

Segundo Silva, no momento apenas 1% do país está plantado com cana -por isso ela não poderia estar competindo com a produção de alimentos. Silva acrescentou que a proibição do uso da soja para a fabricação de biocombustíveis está sendo debatida no Congresso. E para proteger as florestas amazônicas, ela disse, o governo aprovou regras duras que permitem o bloqueio de empréstimos bancários para pecuaristas ilegais.

Gabriel pareceu confiante. "Pelo que escutei, podemos manter as importações", disse o ministro. É preciso dar aos brasileiros a "oportunidade de provar que é possível". A obrigação de demonstrar uma estratégia agrícola ambientalmente sólida fará parte de um pacto energético Alemanha-Brasil que a chanceler Angela Merkel deverá assinar em Brasília em breve.

Em uma excursão pela Amazônia, uma porta-voz do Greenpeace manifestou apoio aos planos do governo brasileiro. "Hoje a cana-de-açúcar não é um problema. Ao contrário, pode ser parte da solução", ela disse. Mas a pesquisa do Ministério do Meio Ambiente mostra que há uma linha fina para as importações de etanol: somente quando a cana é plantada em terra esgotada ela cria um equilíbrio positivo de CO2. Mas os custos para fertilizar esse tipo de solo podem chegar a US$ 400 a US$ 500 por hectare.

Gabriel também estava preocupado sobre os planos do Brasil de expandir sua produção de biodiesel. O presidente Lula não quer usar a soja para combustível porque é uma importante fonte alimentar. No entanto, o governo está menos rígido no que se refere aos óleos de palmeiras, apesar de eles estarem liquidando as florestas tropicais da Indonésia e da Malásia como uma praga.

No entanto, o ministro do Meio Ambiente da Alemanha não acha que os biocombustíveis representem o maior perigo para a floresta tropical. Ele gostaria que os alemães chegassem a uma percepção desconfortável: o grande problema se refere à soja que a Europa importa como ração animal, e os subsídios que sustentam os agricultores europeus. "Os agricultores alemães lucram com o desmatamento da floresta tropical muito mais que os brasileiros", disse Gabriel. Ele afirma que a sociedade alemã deve examinar com seriedade seu consumo de carne.

De seu ministério em Berlim, Gabriel está trabalhando para colocar uma nota de sustentabilidade na ração animal e outros produtos. Isso poderá ter sérias conseqüências para empresas e consumidores que conseguem carne barata graças ao desmatamento da floresta tropical.

Mas depois de suas negociações em Brasília Gabriel está seguindo cuidadosamente com seus planos de colocar certificados em todos os produtos. "Quando se vai depressa demais se perde a oportunidade de negociar", ele disse. Mas se esperarmos demais as florestas tropicais da Amazônia e da Ásia também poderão se perder.


(Por Christian Schwägerl, Der Spiegel, UOL, 08/05/2008)

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