Índios da Raposa/Serra do Sol, em Roraima, adotaram a tática de acampar em barracos de lona às margens de estradas e fechar o acesso a fazendas dos arrozeiros, método semelhante ao usado por sem-terra.
A mobilização é para assegurar a demarcação da terra indígena, alvo de contestação no STF, que suspendeu a desocupação da área, mantendo os produtores de arroz nas terras.
"Se eles [ministros do STF] decidirem que [os produtores de arroz] vão ficar, não vamos manter os bloqueios", disse o líder da comunidade São Francisco, o macuxi Ireneu Silva Aniceto, 35. "As crianças precisam de mais terra", afirmou, apontando para a placa, na qual foi escrito: "nós alunos sem terra não temos educação".
"Eu não quero eles [produtores de arroz] aqui. Eles não nasceram aqui. Eu nasci", diz a macuxi Lilian da Silva, 77.
Na noite de ontem, segundo informação do "Jornal da Globo", os índios aceitaram desbloquear a estrada.
Apesar da ação dos índios, o trabalho de colheita permanece nas fazendas produtores de arroz. Uma das propriedades, visitada pela Folha, pertence ao prefeito de Pacaraima (RR), Paulo Cesar Quartiero (DEM), preso anteontem.
A PF fez busca e apreensão na sede da fazenda anteontem, mas não tinha mandado judicial. "Eram 23 carros com quatro policiais cada um. Ele pularam a cerca e vieram rastejando. Algemaram a gente. Reviraram os alojamentos, disseram que encontraram bombas, mas não vimos", diz o funcionário José Daniel de Paula Filho, 22, preso por 12 horas e liberado.
Segundo a PF, o STF autorizou ações de desarmamento na área e, por isso, ocorreu busca e apreensão na fazenda.
(Hudson Corrêa, Folha de São Paulo, 08/05/2008)