O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, descartou a possibilidade de criação de uma vacina contra a dengue nos próximos cinco a dez anos no país.
Segundo ele, vários grupos de pesquisadores de instituições como a USP (Universidade de São Paulo) e Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz), e também de empresas, vêm trabalhando no desenvolvimento da vacina, mas ainda não há perspectivas de resultados imediatos.
"Não teremos vacinas no próximos cinco a dez anos", reforçou o ministro. Segundo Temporão, "a vacina é complexa porque tem que proteger dos quatro sorotipos ao mesmo tempo. Ou seja, você tem que ter numa única vacina quatro antígenos. Eles têm que se integrar, ter estabilidade e dar uma reposta imunológica importante. Por isso, é tão complicado", explicou."
Na semana passada, Temporão afirmou que o Brasil "perdeu a guerra" contra a dengue nos dez últimos anos e que, agora, terá que conviver com a epidemia da doença por "muitos e muitos anos".
"Com certeza [a epidemia] não acaba tão cedo", disse o ministro. "É uma questão de muitos e muitos anos que o Brasil vai ter que conviver com a dengue e com essa situação."
De acordo com o ministro, para 2009, o Ministério da Saúde trabalha com a possibilidade de ocorrer, nas regiões Nordeste, Norte e em parte do Sudeste, situação tão crítica quanto a verificada atualmente no Rio.
"Em 1990, tínhamos 1.700 municípios com a presença do mosquito [Aedes aegypti], hoje, nós temos 4.000", declarou Temporão. "Nós, em dez anos, perdemos a guerra. Agora, vamos ter que trabalhar muito duro, apostando inclusive no surgimento de uma vacina."
Vacina
Para o ministro, só a descoberta de uma vacina permitirá o controle efetivo da doença no país. "Entre cinco e dez anos é possível que nós tenhamos essa vacina", estimou.
"Aí, seria a solução definitiva." Enquanto o medicamento não é descoberto, Temporão disse que o governo trabalhará para "minimizar as mortes e o número de casos".
O ministro também se queixou da suposta falta de empenho da população no combate à dengue. "Está faltando mobilização, levantar a bunda da cadeira e trabalhar", disse ele. O ano eleitoral é outro assunto que o preocupa. "Há um risco de desmobilização por questões políticas", afirmou.
O Ministério da Saúde também divulgou números atualizados sobre a dengue no país. Foram 230.829 casos notificados de janeiro a abril deste ano, ante 258.795 casos no mesmo período de 2007 --uma queda de 10,8%. Na região Nordeste, as notificações de casos cresceram 30,5% no período, de 41.506 para 54.180 casos.
Curto prazo
Para ele, a inviabilidade da vacina a curto prazo mostra que, em vez de acreditar em "fantasias", é preciso de trabalhar cada vez mais para reduzir a infestação pelo mosquito Aedes aegypti.
Para o ministro, três dimensões precisam ser contemplados para combater a dengue. A primeira delas está ligada a questões estruturais das cidades que inviabilizam a atuação adequada do cidadão, como a falta de gestão do lixo e de abastecimento de água.
Segundo ele, há no país 18 milhões de pessoas sem água encanada vivendo em áreas urbanas e mesmo onde existe abastecimento. A situação acaba forçando-as a acumular água em recipientes e reservatórios, que correm o risco de se tornarem criadouros de mosquitos.
Além disso, mais de 63% dos municípios brasileiros mantêm lixões que favorecem o acúmulo de água em meio aos entulhos e detritos. "É preciso ações coordenadas numa política intersetorial que enfrente a questão do lixo e da oferta irregular de água", defendeu.
Em segundo lugar, o ministro apontou a educação, conscientização e mobilização de todos em ações mensais nos municípios para detectar focos potenciais de proliferação do mosquito e limpar a cidade.
Por último, Temporão apontou o papel do sistema de saúde. "Se tudo falhar e a doença chegar, o sistema de saúde tem que dar conta estar organizado adequadamente, com uma rede de atenção primária forte, para evitar o óbito".
(Folha Online, 06/05/2008)