Oferta destina-se apenas a grandes indústrias e só será confirmada depois da disputa pela usina em RO
A energia que será gerada pela hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira (RO), começará a ser vendida três dias antes da disputa que definirá o responsável pela usina. O consórcio "Energia Sustentável", capitaneado pelo grupo multinacional Suez Energy, fará leilão para vender parte da produção da hidrelétrica na sexta-feira da semana que vem. A oferta pública da energia é destinada ao chamado "mercado livre" e dela poderão participar só grandes consumidores, como indústrias.
Segundo as regras da Suez, a entrega da energia de Jirau começa em janeiro de 2012, mas está condicionada ao sucesso do consórcio na disputa pela usina no leilão do próximo dia 19. O grupo Suez controla a Tractebel, maior geradora privada de energia do Brasil, e deverá entrar na disputa por Jirau associado à empreiteira Camargo Corrêa e às estatais federais Chesf e Eletrosul.
Além desse grupo, só é esperado mais um consórcio: Odebrecht/Furnas (estatal), vencedor do leilão da usina de Santo Antônio, também no rio Madeira, realizado em dezembro do ano passado.
O consórcio Odebrecht/Furnas é considerado favorito por ter feito todos os estudos sobre a hidrelétrica de Jirau e porque terá ganhos de escala ao construir duas usinas simultaneamente na mesma região. Ganhos de escala e conhecimento profundo do empreendimento podem permitir ofertas de tarifas mais baixas de energia.
Ficam com as concessões de hidrelétricas as empresas ou consórcios que oferecerem o menor preço para a energia que será vendida no mercado "cativo" ou "ambiente regulado" -a energia que vai para as distribuidoras e daí para consumidores finais, como residências.
A usina de Jirau (3.150 MW, megawatts) está no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e deverá custar aproximadamente R$ 8,7 bilhões.
O edital de licitação da usina de Jirau estabelece que o dono da hidrelétrica poderá vender até 30% da energia que será gerada para o "mercado livre" -participam grandes consumidores de energia. Eles fazem contratos com as usinas sem passar pelas distribuidoras de energia, que atendem ao mercado "regulado" ou "cativo".
A venda antecipada da energia de Jirau para os grandes consumidores faz parte da estratégia de tentar oferecer um preço menor para os consumidores do mercado "cativo" e, dessa forma, vencer a disputa.
Para Ricardo Lima, presidente-executivo da Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres), a iniciativa de fazer um leilão para compra de energia de Jirau é, a princípio, boa. "Resta saber qual preço será pedido." Segundo ele, esse formato dá um sinal de preço melhor para a energia do que os contratos fechados diretamente com os compradores.
(Humberto Medina, Folha de São Paulo, 07/05/2008)