O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse ontem que a empresa pretende captar no mercado externo US$ 5 bilhões até o final deste ano. Os recursos serão destinados à exploração das novas descobertas na área da camada do pré-sal, na bacia de Santos.
O executivo disse que a estatal ainda negocia a captação, mas que possivelmente poderá ser feita por meio da emissão de bônus no exterior.
Segundo Gabrielli, o nível de endividamento da companhia subirá para fazer frente às novas demandas de investimentos, mas ficará ainda num patamar confortável.
Somente na perfuração de poços na área do pré-sal, a estatal já investiu US$ 1 bilhão. A cifra necessária para desenvolver a produção, porém, será muito mais alta. A estatal evita fazer projeções sobre os valores.
Em entrevista coletiva em Houston (EUA) durante a OTC (Offshore Technology Conference), cujo áudio estava disponível no site da empresa, Gabrielli disse que a estatal divulgará em julho o novo orçamento da companhia que já irá prever os investimentos para desenvolver a produção no pré-sal da bacia de Santos. O atual plano de negócios projeta investimentos de US$ 112,7 bilhões até 2012.
Segundo o diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, a estatal já encomendou duas sondas de perfuração, que devem chegar ao país em 2009 e em 2010, e são parte dos investimentos previstos para o pré-sal. Os equipamentos são destinados à exploração na camada, especialmente no campo de Tupi.
Gabrielli evitou novamente falar sobre o volume das reservas do campo de Carioca. Mas disse se tratar de "um enorme" reservatório. No mês passado, o diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Haroldo Lima, disse que as reservas eram de 33 bilhões de barris, citando relatórios de bancos e revistas estrangeiras como fonte.
Segundo Estrella, até o final deste mês a empresa poderá divulgar mais detalhes, quando saírem os resultados da perfuração de um poço no campo.
Estrella disse que ainda em maio serão iniciados os testes no bloco BM-S 8, localizado no pré-sal da bacia de Santos e batizado como Bem-te-vi.
Opep
Indagado se após as descobertas do pré-sal o país estuda ingressar na Opep (o cartel dos países exportadores de petróleo), o presidente da Petrobras disse que essa é uma decisão de governo, e não da companhia. "Nós não somos um país, somos uma empresa", disse.
Gabrielli afirmou que atualmente o Brasil é ainda apenas um "exportador marginal de petróleo" -o que, em tese, não o credencia a entrar na Opep.
Neste ano, a estatal prevê registrar exportações maiores do que importações, em volume. O saldo será positivo em 28 mil barris/dia de óleo e derivados -contra 34 mil em 2007.
Mas a alta do petróleo e o crescimento do consumo de combustíveis no país fizeram a Petrobras fechar o primeiro trimestre do ano com um déficit financeiro de US$ 775 milhões.
(Pedro Soares, Folha de São Paulo, 07/05/2008)