Prefeitura e diocese estudam parceria para criar casa de passagem e programa de renda aos índios na cidade
Desde o começo do ano, pelo menos 184 indígenas passaram por Santa Maria para vender artesanato
Sexta-feira passada. Chove forte, e o frio não é menos intenso do que ela. Em uma barraca, perto da rodoviária, a família de Juarez da Rosa, 37 anos, faz uma fogueira para se aquecer. Ela chegou em Santa Maria há cerca de 20 dias para fabricar e vender cestas. Devem ficar até agosto, no mesmo barracão onde passaram a madrugada mais fria do ano, na última quarta-feira. Mas, se um projeto que começou a se desenrolar na cidade nos últimos dias der certo, essa realidade deve mudar.
Ver índios, de diferentes tribos, como é o caso dos caingangues da qual Juarez e a família fazem parte, vendendo cestos e artesanato nas ruas não é cena rara, principalmente em datas festivas. Só este ano, pelo menos 184 já estiveram na cidade. A chegada das famílias é acompanhada de um drama social, pois não há um local próprio para hospedá-las. Algumas vão para a gare, o Arenal, um terreno perto da rodoviária ou outro local apontado pela prefeitura.
A intenção é que, a curto prazo, essa dificuldade seja resolvida com um projeto social voltado para essa parcela da população que não mora, mas, de tempos em tempos, abriga-se na cidade. Muitas vezes, com as vendas escassas, eles não conseguem sequer dinheiro para voltar para suas aldeias e precisam da ajuda da prefeitura.
A iniciativa para ajudar os indígenas tem duas frentes. A primeira delas parte do Ministério Público Federal (MPF). O órgão é encarregado de defender os direitos da população indígena no país. Diante das dificuldades enfrentadas em Santa Maria, o procurador Rafael Brum Miron chamou a prefeitura para uma conversa. A reunião ocorreu na quarta-feira passada. Miron tomou a decisão de pedir que um antropólogo do MPF venha à cidade fazer um levantamento da situação dos povos indígenas.
Na outra ponta está a prefeitura. A Secretaria de Assistência Social, Cidadania e Direitos Humanos pretende construir um projeto em conjunto com a diocese para construir uma casa de passagem para os índios e incluí-los em programas da Rede Esperança/Cooesperança. Amanhã, haverá uma reunião do bispo dom Helio Rubert com a prefeitura e representantes do Esperança/Cooesperança.
De acordo com o secretário Pedro Maboni, a nova casa do índio deve ser diferente daquela construída em 2001 - e que fechou em 2006. No local onde ela for erguida, além de moradia provisória, os indígenas deverão ter um espaço para venda de artesanato.
Dizimados
Estimativas da população indígena na época do descobrimento apontam que existiam no Brasil mais de mil povos, somando de 2 a 6 milhões de indígenas. Hoje em dia, segundo dados da Funai, são contabilizados 227 povos e cerca de 300 mil indígenas
(Por Marilice Daronco, Diário de Santa Maria, 06/05/2008)