Briga de beleza, jogo de empurra, falta de informações e omissão das autoridades. A passagem de um ciclone extratropical pelo Rio Grande do Sul não revelou apenas falhas no atendimento às vítimas, mas também o descompasso da cúpula do poder público em situações de emergência.
A ausência de comunicação entre órgãos públicos atingiu até o comando do governo estadual. Ontem - mesmo depois de 340 mil pessoas terem ficado sem energia elétrica - , o vice-governador Paulo Afonso Feijó não sabia responder se a CEEE havia mobilizado equipes suficientes para atender a população durante o fim de semana. Feijó foi o governador em exercício de quarta-feira até sábado, quando Yeda Crusius retornou dos Estados Unidos.
O vice afirma ter acompanhado os serviços até ser informado da volta da titular, na manhã de sábado. Após isso, Feijó afirma ter parado de receber informes da Casa Militar. O vice acredita que, a partir daí, o comando foi assumido por Yeda. A falta de sintonia entre os dois ficou evidente nas próprias declarações de Feijó:
- Não recebi nada sobre isso, assim como não recebi nenhum telefonema da governadora informando oficialmente que havia chegado.
Ao desembarcar em São Paulo, na manhã de sábado, Yeda passou a receber por e-mail informações sobre o caos no Estado. Ela orientou os assessores. Usando o avião do Estado, um King Air Turboélice, ela desembarcou em Porto Alegre às 13h16min.
No site do governo gaúcho, não há referência a eventuais visitas de Yeda a áreas atingidas. Por meio de assessoria de imprensa, a governadora afirmou que qualquer esclarecimento seria dado pela Defesa Civil e que ela "fez tudo o que tinha de ser feito".
A primeira autoridade a aparecer publicamente foi o prefeito da Capital, José Fogaça. Na manhã de segunda-feira, 72 horas depois, ele verificou pessoalmente os prejuízos na Rua Dorival Castilhos, no bairro Hípica. Cerca de cem famílias perderam as casas no local. Indagado sobre a ausência no fim de semana, Fogaça disse estar coordenando as equipes que trabalha.
- Todo o sábado e domingo não fiz outra coisa. Coordenei todas as atividades - explicou o prefeito.
Na ausência de um comando central, o que apareceu foi a atitude do presidente da Assembléia Legislativa, Alceu Moreira (PMDB). O deputado montou um "gabinete de emergência" em plantão 24 horas para ajudar as vítimas do temporal. O atendimento foi feito por meio de três telefones.
(Zero Hora, 06/05/2008)