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radiação eletromagnética
2008-05-06

Antes de tomar o volante de seu automóvel Skoda vermelha que anda em velocidade nas estradas secundárias da periferia de Estocolmo, Ann enfiou o seu capacete anti-radiações. É uma espécie de mosquiteiro cuja grade de prata a protege das microondas espalhadas pelo universo, que são veiculadas por celulares, antenas emissoras receptoras, equipamentos Wi-Fi? "Em primeiro lugar, há aquele calor que faz o meu rosto arder; e então, aparecem os problemas de concentração, eu perco o fio do meu raciocínio e as minhas palavras, o meu pensamento torna-se confuso? Estes são sintomas que ninguém gostaria de ver se produzirem enquanto estou dirigindo, não é?" Não, ninguém gostaria disso. Ann Rosenqvist Atterbom é "eletro sensível".

Esta mulher alta, de rosto suave e de ombros largos, cujos cabelos loiros se cobriram de tonalidades acinzentadas ao longo dos anos, apresenta os mesmos sintomas que os das crianças das escolas francesas cujos tetos foram equipados de antenas emissoras receptoras. Ela se queixa das mesmas moléstias que as dos bibliotecários da cidade de Paris depois da instalação de pontos de acesso Wi-Fi nas suas dependências, no mês de agosto de 2007: enxaquecas, eritemas, náuseas, distúrbios da concentração, vertigens, palpitações, formigamentos?

OS 'ELETRO SENSÍVEIS'
Por todo lugar no mundo, vozes são ouvidas que, aos milhares, dizem assim serem vítimas dos efeitos nocivos causados pelo suporte invisível das novas tecnologias: as ondas eletromagnéticas. A diferença, na Suécia, é que lá, ninguém diz mais que essas pessoas são loucas. Já admitiram há muito tempo que o seu mal é para eles uma desvantagem que pode se tornar um obstáculo, e que ele deve ser tratado como tal. Até que se compreenda por que isso acontece.

O carro pára ao lado de um campo onde estão espalhados alguns chalezinhos de madeira, modestas residências de verão. Sylvia Lindholm está à nossa espera. Torras de bétula queimam na estufa e velas iluminam a mesa. Uma cama de baldaquino aumenta ainda mais o exotismo do lugar. No entanto, por mais brancos e românticos que eles sejam, de fato os seus véus são feitos de uma fibra especial, metalizada, destinada a bloquear os campos eletromagnéticos. Sylvia, 62 anos, passa o inverno aqui, enquanto aguarda que o seu apartamento seja "eletro-saneado", por meio da instalação de pinturas protetoras, de cortinas-escudos e de filtros em forma de filmes aplicados sobre os vidros das janelas? A cidade de Estocolmo concedeu-lhe uma doação de 18.000 euros (cerca de R$ 45.800) para a reforma.

Na sala do colégio onde ela continua lecionando, os néons foram retirados; aos alunos, pede-se para deixarem seus celulares no armário do vestiário. E todo mundo mostrou-se "compreensivo", diz, desde o médico do trabalho que a diagnosticou "eletro sensível" até o principal do colégio, que aceitou facilitar-lhe a vida? Para reformar o seu apartamento, Sylvia recorreu a Lars Rostlund. No passado, Lars era um homem bastante "certinho": um engenheiro em eletrônica, filho de um executivo diretor de uma grande empresa, ele votava tranqüilamente na direita e tocava a sua pequena sociedade de consultoria e de assistência informática para empresas.

Em 1994, no momento em que acabam de lhe fazer uma massagem eletrônica, Lars passa mal. Os seus olhos ardem no contato com a luz do dia; no escritório, as pupilas tremem; e quando ele volta para casa, o seu olfato lhe assinala cheiros que ele não percebia anteriormente. "Tive a sensação de ter superpoderes, de estar evoluindo num mundo paralelo, um sentimento irreal e assustador", conta este gigante jovial. "Sem demora, eu entendi a relação com as ondas eletromagnéticas. Afinal, este era o meu ramo". Em um ano, ele pára de trabalhar, por pouco não se divorcia ("A cozinha estava repleta de ondas. Eu não conseguia mais lavar a louça. A minha mulher não queria acreditar em mim?"); isola o seu apartamento, faz ginástica, tenta um tratamento à base de altas doses de vitaminas, consulta um psiquiatra ("Eu não perdi meu tempo, aprendi coisas a meu respeito, mas isso de nada adiantou para o problema que eu tinha"). Ele encontra forças suficientes para retomar seu trabalho, ainda que em regime de meio-período. Quatro anos mais tarde, durante uma visita a uma empresa, ele não percebe nenhuma onda má e se surpreende com isso. Ele aciona então o seu aparelho de medição. O seu corpo acaba de mentir para ele! As taxas de radiação são elevadas, mas ele nada sente. Ele está curado.

Desde então, Lars se protege o máximo possível, vota nos ecologistas, e especializou a sua sociedade na caça aos campos eletromagnéticos: o seu faturamento anual é de 300.000 euros (cerca de R$ 763.000). A sua mulher cuida da contabilidade, mas continua considerando com um olhar desconfiado esta clientela, cada vez mais numerosa, composta por figuras estranhas que aparecem à procura de cabos dotados de franja em espiral, de lâmpadas sem ondas, de aparelhos de detecção, ou de kits "mãos livres" para telefones celulares cujos cabos são tubos de plástico dentro dos quais o som, como nos estetoscópios, é veiculado pelo ar.

"Isso não é mentira"
Você acha que eles são loucos? A realidade é mais assustadora ainda: eles são sensatos. Eles não falam em óvnis escondidos, nem estão acometidos de neurose paranóica, nem de surtos de misticismo. Não, eles são antes pessoas que buscam uma explicação científica para a sua dor, além de uma solução política para a sua situação. A sua associação, a FEB, conta 2.500 aderentes e integra a Federação Nacional dos Deficientes Físicos. Baseando-se numa pesquisa que foi realizada nos anos 1990, eles reivindicam constituir uma população de 300.000. Mas o Estado evita divulgar números, consciente de que isso poderia prejudicar o equilíbrio da sua balança comercial: a maior companhia do país chama-se Sony Ericsson, um dos cinco gigantes mundiais da telefonia celular.

Rigmor Granlund Lind tem 71 anos, e o seu olhar vivo tem um brilho que reflete os inúmeros combates de uma vida. Por muito tempo ela foi uma militante comunista, além de dirigente sindical e professora. Ela mora ao sul de Estocolmo, numa pequena casa típica da periferia mundial ordinária. Nas estantes da biblioteca, as argumentações anticapitalistas de Noam Chomsky, os poemas pedagógicos de Makarenko, em russo, com anotações rabiscadas, Balzac em francês, e toda a literatura sobre eletro sensibilidade. "No começo, eu tive crises de apnéia do sono, parava de respirar durante a noite, e então, elas começaram a ocorrer de dia, quando utilizava o computador". A partir daquele momento, ela e seu marido cortaram a eletricidade. Durante dois anos. "Se, na maioria dos casos, o(a) parceiro(a) se mostra solidário(a), é porque ele(a) está vendo muito bem que isso não é uma mentira. Quando John acendia uma tocha no porão, ele me ouvia gritar: Você colocou de volta o fusível número 6?" Ela ri desta recordação. "Quando nós pudemos finalmente religar a luz, aquilo foi o paraíso. Nós compreendemos o que puderam sentir as pessoas no dia em que foi descoberta a eletricidade?" Hoje, esta senhora baixinha de longos cabelos brancos se instalou novamente na frente do monitor do seu computador, que ela enxerga através de uma espécie de aquário alto e plano repleto de água salgada. E, de vez em quando, ela até mesmo se desloca até o centro de Estocolmo, escondida, como Harry Potter, sob a sua capa de invisibilidade: um elegante poncho preto com um capuz que ela mesma fabricou. No forro, está aplicada uma folha deste tecido metalizado que pára as ondas.

"Estressosensíveis"
Na sua biblioteca, Rigmor apanha um livro. O título: "A Hipersensibilidade num meio-ambiente de trabalho". O subtítulo: Como uma empresa se encarrega de uma questão ambiental emergente. O editor: Ellemtel, uma ex-filial da Ericsson. Um livro de um outro tempo. 1993. Naquele ano, 49 engenheiros de alto nível que trabalhavam nos laboratórios do gigante sueco adoecem. Eles são eletro sensíveis. A companhia gasta muito dinheiro e inteligência para sanear seu meio-ambiente e fazer com que eles possam retornar ao trabalho. Este livro, atualmente impossível de achar, glorificava este modo de proceder. Mas os tempos mudaram. Per Segerbäck, que dirigia uma das equipes e figurava entre os mais atingidos, foi demitido: ele não saía mais de casa sem um macacão que o fazia se parecer com um astronauta e se tornara uma embaraçosa figura assediada pela mídia.

Os eletro sensíveis suecos devem a sua força ao fato de que eles já existiam antes do advento do telefone celular e da Wi-Fi. Numa época em que o ato de reivindicar esta doença não representava uma ameaça para a indústria. Desde então, as autoridades compreenderam o seu erro. "Essas pessoas estão doentes, não há dúvida alguma quanto a isso? Mas não existe nenhuma prova científica de que esses sintomas sejam causados pelos campos eletromagnéticos". Baixinho, com um semblante triste e desolado, "o anjo do diabo" -conforme alguém um dia o batizou na Internet- escorrega com as suas sandálias Birkenstock sobre os ladrilhos de plástico do SSI, o organismo de Estado encarregado da proteção contra as radiações. Lars Mjönes tem uma profissão pouco reluzente: ele é o apóstolo do "tudo vai bem" que as autoridades enviam para as reuniões públicas com a missão de enfrentar os militantes dos Vagbrytaren, os "quebradores de ondas", que se opõem à construção de antenas emissoras receptoras. "Quando surgem novas tecnologias", diz, "as pessoas ficam com medo". Primeiro, há o medo dos computadores, depois vem o dos celulares, e então da tecnologia 3G, da Wi-Fi? Essas pessoas perdem o sono. O seu sistema nervoso enfraquece. "Elas se tornam estressosensíveis". Mas elas esbarram num negação oficial, sempre ponderada por uma frase do tipo: "?Mas, quais quer que sejam as causas, nós devemos ajudar essas pessoas; o importante é que elas possam contar com um atendimento gratuito nos níveis social e médico?".

Vale lembrar que a Suécia é o país que inventou o "ombudsman", o mediador, esse representante dos cidadãos perante a administração pública. Aqui, tudo parte do indivíduo, do seu direito inalienável à felicidade e à saúde. Então, para enfrentá-los, Lars Mjönes se faz de caniço: deixar dizer e continuar fazendo. E se essas pessoas estivessem certas? "Ah, sim? Por certo? Seria preciso mudar muitas coisas?"

Psicose coletiva
"A explicação mais disseminada é que se trata de uma psicose coletiva orquestrada pela mídia e a Internet. Veja só uma coisa: os ratos não lêem o 'Le Monde', e, contudo, ainda assim, eles reagem aos eventos", ironiza o professor Olle Johansson enquanto percorre o laboratório de neurologia experimental do Instituto Karolinska, em Estocolmo, onde ele oficia há mais de trinta anos. Em 1989, Olle Johansson tinha 36 anos. Naquela época, enquanto os PCs começam a se multiplicar, novas patologias são assinaladas. As telefonistas que trocaram seu dispositivo de ligação por um monitor de computador estão entre as primeiras a se queixarem de calor e de eritema no rosto.

Será por culpa das ondas eletromagnéticas? Para estudar a questão, a Suécia implantou o projeto Göteborg que reúne psiquiatras, químicos, imunologistas, médicos? Sobre a mesa, Olle Johansson colocou três fotos de pedaços de peles vistos no microscópio. "Na foto A, nós temos a imagem de uma pele normal; na foto B, o indivíduo está acometido da rosácea, uma doença freqüente que apresenta sinais clínicos semelhantes aos sintomas em questão; finalmente a foto C mostra a pele de uma das pessoas que sofrem de eletro sensibilidade? Nós submetemos essas três amostragens a diferentes marcadores: o PGP 9,5, uma proteína neuronal, o PNMT, uma enzima, e por fim a proteína S-100. O que descobrimos?", indaga o pesquisador, apresentando novas fotos. "Em primeiro lugar, nós verificamos que as três imagens são diferentes entre si. Trata-se, portanto, de uma doença específica. Depois disso, vimos que nas pessoas atingidas, as células dendríticas (o dendrito é o prolongamento do corpo celular do neurônio) têm uma forma muito mais arredondada e parecem ter uma tendência a fugir da epiderme, como se ao agirem de outra forma elas fossem se dividir. Ora, a divisão celular, a mitose, é o primeiro passo rumo a um câncer? É claro, até então tudo não passava de especulações, mas quando nós descobrimos isso, ficamos em estado de choque; não estávamos preparados para isso"... Olle Johansson dá um nome a esta doença: a dermatite da tela (de computador).

Quando, durante a reunião destinada a fazer um balanço do conjunto das pesquisas, ele anuncia a sua descoberta, os cientistas olham uns para outros, dizem que é preciso avaliar isso de mais perto, marcar uma nova reunião. Mas o tempo passa e a dita reunião não acontece. Olle Johansson acaba ligando para um dos seus interlocutores, de quem ele ouve a seguinte resposta: "A reunião realmente aconteceu, mas você está fora do projeto". É desta maneira que um dia alguém descobre que fez algo que não devia. Que passou para o lado dos excluídos. Apesar do seu sorriso malicioso, os seus olhos se marejam. Contudo, o homem gosta de lutar. As lâminas de fotos, os relatórios, as provas transbordam literalmente das suas pastas. De nada adianta. Hoje, Olle Johansson não recebe mais nenhuma verba para as suas pesquisas.


É difícil entender qualquer coisa em meio a esta neblina científica. De um andar do Instituto Karolinska para o outro, os discursos se invertem. De um lado, há os membros da comunidade científica que enxergam anomalias por todos os cantos. O número deste pesquisadores está em constante progressão e eles se encontram, sobretudo, na Suécia, na Alemanha, na Austrália, nos Estados Unidos. Eles apontam impactos sobre a pele, sobre o esperma, sobre a produção de serotonina, um neuromodulador do sistema nervoso, sobre as barreiras imunológicas, sobre o desaparecimento dos insetos? De outro, há aqueles que explicam que, por mais que eles pesquisem, eles nunca conseguem encontrar absolutamente nada; que "nada permite chegar a alguma conclusão"; que se trata de mais um desses grandes medos do novo milênio, como já vimos tantos surgirem por aí. Olle Johansson, pesquisador do laboratório de neurologia experimental do Instituto Karolinska, se mostra desolado.

"Ainda assim, mesmo se existisse apenas um único estudo alarmante, solitário, ao lado de centenas de outros que nada mostram, seria justamente este que deveria nos interessar. Não são as milhares de decolagens bem-sucedidos do Concorde que chamam as atenções dos especialistas em segurança, mas sim os trinta acidentes que vieram a ocorrer", afirma.

Em todo caso, é difícil não notar que a maior parte das verbas alocadas para as equipes de pesquisas vai para aqueles que pensam que as ondas são inofensivas. E que os nomes desses últimos também são encontrados na maior parte das entidades que agregam especialistas? Será que isso acontece porque eles estão cobertos de razão e que eles apontam a verdade? Ou será porque as suas conclusões são boas para a economia? "A indústria financia 50% das pesquisas, mas isso é feito por intermédio das estruturas internacionais que decidem a quem este dinheiro vai ser atribuído. Que ninguém venha nos acusar de manipular as pesquisas!"

Em seu escritório de design avançado e mobília confortável, segurando uma xícara de café em suas mãos, Mats Holme sorri. O homem lígio de toda a indústria das telecomunicações na Suécia -Sony Ericsson, Nokia, Motorola, Samsung- se diz inocente. De toda e qualquer acusação. Ele não tem culpa alguma se os projetos de criação de aldeias "livres de ondas" reclamadas pelos eletro sensíveis andaram capotando de maneira sistemática. Este foi o caso, por exemplo, em Degerfors, a oeste de Estocolmo: "Tudo o que eu fiz foi enviar um dossiê de informação para o organismo de Estado encarregado de fornecer auxílios para as reabilitações de imóveis. Depois disso, o que fez a prefeitura não era mais da minha alçada." Ele não tem culpa alguma se as taxas de radiações autorizadas são consideradas elevadas demais pelos eletro sensíveis: "Essas taxas são decididas por um colégio de especialistas internacionais". Todos precisam entender bem o seguinte: o que ele quer, o que a indústria quer, é ajudar essas pessoas. Mesmo sem acreditar nelas. "É um serviço que nós estamos lhes prestando; caso contrário elas irão definhar até ficarem desesperadas, sem nunca procurarem pelas verdadeiras razões da sua moléstia. Aliás, eu também estou sofrendo, na minha casa no Arquipélago [um conjunto de ilhas protegidas situado a algumas centenas de metros de Estocolmo, um bairro abastado onde predominam os casarões], não consigo captar direito as ligações, nem as imagens da televisão".

"Excluídos da sociedade"
Enquanto isso, em sua casa na floresta, Eva espera por socorros que nunca vêm. A campanha é suavemente ondulada. Até onde a visão alcança, a natureza esbanja as suas cores: o branco das bétulas e o verde dos pinheiros, o amarelo-palha da grama macerada pela neve e o marrom pronunciado das terras recém lavradas, o vermelho bordô das casas de madeira e o azul profundo dos lagos. No meio desta imensidão, em intervalos muito espaçados, uma antena está erguida, apontando para o céu. Para chegar à casa de Göran Svardstrom e Eva, é preciso passar, através da floresta, por uma pequena estrada departamental, depois seguir por uma estrada não asfaltada, e finalmente descer até o lago por uma trilha. Lá, predomina uma sensação de calma e de ordem. Tudo parece estar suspenso no tempo e no espaço. Algumas casas estão agrupadas sob as árvores. Há um prado que se estende em direção à superfície das águas geladas. É maravilhos. "Sim, uma prisão maravilhosa", suspira Eva.

Os seus primeiros sintomas apareceram há quatorze anos, mas foi somente oito anos atrás, quando ela não agüentou mais viver na pequena cidade onde ela ensinava as ciências naturais, que Eva e seu marido vieram morar aqui. "Foi quando eu tive a minha primeira crise: alguém tinha utilizado um celular perto de mim, o meu coração começou a disparar, e eu senti que estava prestes a desmaiar". Austero, o chalé não possui nem água nem eletricidade. Mas ela se sente melhor aqui. Ele, que é um especialista em calefação, instalou o seu escritório num terreno um pouco mais acima, perto da estrada. Com o isolamento, a saúde do casal melhorou. Contudo, ela, filha de camponeses do extremo norte, acostumada com a rudeza dos dias curtos demais, está definhando. "Quando alguém está na prisão, ele sabe que irá sair algum dia; no meu caso, eu não sei! Eu não consigo viver dentro de uma gaiola. Isso não é uma vivência, é uma sobrevivência. Nós fomos excluídos da sociedade".

Para ir buscar água, é preciso passar pela pequena sauna que está instalada num chalé em nível mais baixo, caminhar uma dezena de metros sobre o gelo e levantar uma tampa acima do buraco que mergulha sob a superfície gelada do lago. Em janeiro, Eva sofreu uma fratura num braço. Ela foi obrigada a ir ao hospital. Médicos e enfermeiras fizeram todo o possível para que ela se sentisse à vontade. Contudo, quatro dias mais tarde, ela sofreu uma crise terrível. Todos os sintomas voltaram à tona: o coração disparado, os formigamentos, e a impressão de que os seus membros não respondiam mais aos seus comandos. Os cabelos, as pupilas, as roupas: tudo em Eva e Göran parece estar desbotado. Há lágrimas nos seus olhos. "Sim, eu acredito que posso morrer a qualquer momento", diz ela.

O lábio superior de Göran, por sua vez, está tomado por um tremor de cólera, de impotência e de amor. Não longe da sua casa, a menos de dois quilômetros, sobre o morro do outro lado do lago, uma nova antena foi instalada há três anos. Nem a petição, nem o bloqueio dos tratores pelos moradores vizinhos, também preocupados, conseguiram impedir que o "crime" fosse perpetrado. A cada ano que passa, o progresso continua rechaçando toda vez um pouco mais longe para dentro das florestas cerca de 500 "refugiados ambientais", exilados em seu próprio país. "Tornou-se tão evidente que alguma coisa está errada. E que as autoridades não nos levam a sério? Algumas pessoas vêm me procurar, e me dizem: 'Preciso da sua ajuda! Acho que eu vou me matar!' O que eu posso responder a essas pessoas? Diga-me, o que eu posso lhes responder?"

A voz de Göran está perdendo fôlego: "Nós precisamos de descanso? Por favor, devolva-nos as nossas vidas!"

A neve recomeçou a cair, acinzentada e úmida. Essas pessoas, este casal, todos eles talvez estejam enganados. Mas eles não estão fingindo. "Eu os comparo com freqüência com os canários que eram levados para as minas", comenta com tristeza o professor Olle Johansson. "Quando os pássaros morriam, este era o sinal de que não havia mais oxigênio e que era preciso então sair de lá correndo".

(Por Laurent Carpentier, Le Monde, tradução de Jean-Yves de Neufville, UOL, 05/05/2008)


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