Cientistas esperam que o aquecimento global seja mais intenso nos pólos, mas um novo estudo sugere que a mudança climática será uma ameaça maior para animais que vivem nos trópicos, acostumados a temperaturas mais elevadas, mas também mais estáveis. Com isso, o maior número de extinções provocadas pelo efeito estufa deverá se concentrar na região tropical, que também é a de maior biodiversidade do planeta.
O trabalho, publicado na edição desta terça-feira da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), analisou dados sobre a tolerância de diversas espécies de insetos a variações de temperatura, e concluiu que os insetos tropicais sofrem mais com pequenos aumentos de calor que as criaturas das zonas temperadas e geladas.
Os autores do trabalho, das universidades de Washington e Estadual do Colorado, nos EUA, calculam que os insetos tropicais vivem muito perto da temperatura máxima que seus organismos são capazes de suportar. "Em média, a tolerância térmica de um inseto tropical é um quinto da de um inseto de latitude média", diz o artigo na PNAS.
O trabalho sugere que o mesmo fenômeno poderá afetar outros animais terrestres ectotermos, que dependem do ambiente para controlar a temperatura de seus corpos. Além de insetos, sapos, lagartos e tartarugas encaixam-se na categoria, já que um levantamento feito pelos autores indica que a tolerância de uma espécie ao calor acompanha a variação natural de temperatura em seu hábitat natural.
"Os efeitos diretos da mudança climática nos organismos que estudamos parece depender muito mais na flexibilidade do organismo que na intensidade do aquecimento previsto para o lugar em que vive", disse um dos autores do trabalho, Joshua J. Tewksbury.
(Por Carlos Orsi, Estadão Online, 05/05/2008)