O ciclone extratropical que agiu em Santa Catarina desde a última quinta-feira transformou algumas cidades do Sul do Estado num cenário que não se via desde a última enchente na região, em 1974. Mais de 400 pessoas tiveram as casas invadidas pela água de rios que transbordaram. A Defesa Civil do Estado não soube informar quantas pessoas ficaram desabrigadas em Santa Catarina, mas confirmou que quatro municípios decretaram situação de emergência: Balneário Arroio do Silva, Ermo, Araranguá e Jacinto Machado.
Cerca de cem famílias nos municípios de Araranguá e Ermo precisaram abandonar as casas com água a 1,5 metro de altura, e outras dezenas permanecem ilhadas no interior de Jacinto Machado e Timbé do Sul, e ainda sofrem com a falta de energia elétrica.
Em Ermo, uma das cidades mais castigadas, o Rio Itoupava transbordou e alagou o Centro e comunidades rurais. Para fazer a travessia da SC-448, que liga o município a Turvo, assim como nas comunidades rurais, é preciso um trator ou camionete, em razão da força da água. Assim como no trecho entre Turvo e Ermo, a estrada está interditada na Serra da Rocinha, em Timbé do Sul.
Conforme a primeira-dama do município, Rosa Maria Oliveira, que acolheu 250 pessoas na prefeitura, as localidades de Taquaruçu, Água Branca, Santana e Linha Simão estão isoladas. A expectativa é que até amanhã a água escoe, e o trabalho de limpeza possa começar.
Deodato de Oliveira, 43 anos, percorreu a cidade de trator durante todo domingo para avaliar os estragos junto a prefeitura, e uma só lembrança lhe veio à mente:
- Só na enchente de 1974 vi isso aqui em Ermo.
Apenas uma casa, de madeira, foi derrubada pela chuva. A família que residia nela foi retirada antes. A dona de casa Geni de Souza Pinheiro, 64 anos, colocou uma escada na sala de casa na noite de sábado e esperou a água barrenta subir. Sozinha, perdeu o cachorro de estimação. Apenas com a roupa do corpo, foi acodida pela prefeitura somente ontem de manhã.
- Meus filhos estão ilhados no interior de Turvo e não podem me ajudar - disse.
Desabrigados têm centro de referênciaEm Araranguá, cerca de 50 famílias foram levadas a dois centros de recepção de desabrigados, instalados pela Defesa Civil do Estado. Conforme o gerente de prevenção Edir de Souza, na tarde de ontem, houve uma vistoria com helicóptero da Polícia Militar, com apoio da Secretaria de Desenvolvimento Regional de Araranguá para iniciar a avaliação dos danos. O relatório deverá ser concluído em cinco dias.
- Não temos registros de feridos ou mortos, mas permanecemos no Sul do Estado até a água baixar - adiantou.
No Bairro Barranca, um dos mais carentes de Araranguá, o nível da água surpreendeu os moradores, que não tiveram muito tempo para levantar os pertences.
O soldador Jonas Narciso, 25 anos, morador do bairro desde criança, explica que bastaram 20 minutos para a água subir:
- Tenho vizinhos que perderam tudo.
Na BR-101, entre os Kms 403 e 412, em Araranguá, no Sul do Estado, havia uma lâmina de 30 centímetros de água sob a pista. De acordo com a PRF, a rodovia foi interditada às 17h de ontem e não há previsão de liberação. Enquanto a água não baixar, o tráfego será desviado pela SC-449, que liga os municípios de Araranguá a Meleiro, pelo Sul, e pela entrada principal de Maracajá, ao Norte.
(Por Ana Paupa Cardoso, Ermo,
Diário Catarinense, 05/05/2008)