A passagem de um ciclone extratropical pelo Estado expôs um esquema de emergência insuficiente para atender aos chamados que se multiplicaram ao longo de um final de semana que atormentou sobretudo os gaúchos que residem na faixa leste do Rio Grande do Sul.
O fenômeno, marcado pela chuva torrencial e por ventos que chegaram a 118 km/h, provocou pelo menos uma morte e pode ter causado outra. Na medida em que avançava, foi causando enchentes, interrompeu a BR-101, uma das ligações do Rio Grande do Sul com o centro do país, e a Rota do Sol, entre a Serra e o Litoral, e deixou 340 mil pessoas sem energia, o que congestionou os telefones de emergência, apesar de órgãos de defesa e de serviços estarem de prontidão.
Mesmo com cerca de 50% mais homens de plantão e três atendentes (em vez de dois) para receber as ligações no telefone 193 na Capital, os bombeiros tiveram de triar as chamadas.
- Não tem como atender a todas as ocorrências, priorizamos onde há risco de vida - disse o comandante do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar, coronel Sérgio Klunck.
Ele afirmou que todos os comandos regionais estavam em alerta e que aumentar as equipes é uma decisão local. No Grupamento de Busca e Salvamento (GBS), não houve aumento do efetivo, informou o comandante, o major Humberto Teixeira Santos.
De acordo com ele, as providências foram a manutenção das cinco motosserras do grupamento e a revisão das oito embarcações (quatro botes infláveis, dois botes de alumínio e uma baleeira). O GBS tem 25 homens de plantão a cada 24 horas, mas, no sábado, foi necessário chamar mais cinco pessoas para ajudar no atendimento à zona sul da Capital, onde 320 pessoas foram removidas de bote.
Na Capital, a queda de centenas de árvores em vias públicas também tumultuou o atendimento por equipes da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, da CEEE e dos bombeiros. A remoção continuará hoje devido ao grande volume de ocorrências.
No Estado, a Defesa Civil atendeu só no sábado a mais de 3,4 mil ligações pelo telefone 199. Segundo o secretário da Defesa Civil de Porto Alegre, coronel Sidnei Viapiana, a chuva e os ventos extrapolaram todas as previsões.
- Nossas equipes estavam prontas, mas as previsões falavam em 140 milímetros de chuva de sexta-feira até segunda. Só de sexta para sábado, choveu 237 milímetros na Lomba do Pinheiro (Capital), por exemplo. Todas as nossas medições passaram de 100 milímetros em menos de um dia. Não conseguimos atender à totalidade.
Chuva atingiu 378 dos 496 municípios gaúchos
A Defesa Civil da Capital manteve em serviço duas equipes (um carro e três pessoas em cada). Conforme Viapiana, o Departamento de Esgotos Pluviais também tinha 10 equipes em serviço desde a madrugada de sábado.
O subchefe da Defesa Civil do Estado, tenente-coronel Joel Prates Pedroso, afirmou que a chuva atingiu 378 dos 496 municípios gaúchos durante 30 horas ininterruptas.
- Quando recebemos o alerta, reenviamos a todas as prefeituras. Mas nós somos o gestor do sistema, a decisão é de cada local - afirmou.
(Zero Hora, 05/05/2008)