Acabam de sair do forno novos dados que mostram a retomada do ritmo brutal do desmatamento da Amazônia. Desta vez foi o Imazon, ONG com sede em Belém, que divulgou nesta quarta-feira dados de seu Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD) para os três primeiros meses do ano nos estados do Pará e Mato Grosso. Somados, os dois estados tiveram um desmatamento de 214 quilômetros quadrados, o triplo do mesmo período do ano passado.
O Imazon confirmou o que o Greenpeace vem observando em seus sobrevôos periódicos sobre a região, amparados em imagens de satélite: as motosserras que devastam a Amazônia estão com fome até mesmo em meses de chuva, período em que tradicionalmente a derrubada de florestas é bem menor, e não se intimidaram com as medidas de repressão anunciadas pelo governo federal em janeiro deste ano.
"Tanto os dados do Imazon como os apresentados pelo sistema Deter, do Inpe, há uma semana, mostram que o desmatamento neste primeiro trimestre está em níveis alarmantes", disse Paulo Adario, coordenador da campanha da Amazônia, do Greenpeace.
Os dois institutos - o Inpe (do governo), e o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), ONG com sede em Belém - monitoram o desmatamento mensal no Brasil através da análise de imagens de satélite. Tanto o SAD, do Imazon, quanto o Deter, do Inpe, são sistemas ágeis, que utilizam imagens de satélite de baixa resolução e fornecem dados freqüentes sobre a cobertura vegetal da região.
Segundo Adario, os próximos meses - maio, junho e julho - são críticos, já que é este é o perído de maior destruição da floresta.
"Lamentavelmente, é praticamente certo de que o desmatamento acumulado de 2007/2008 será maior do que no período anterior, interrompendo a queda de três anos seguidos. Isso é ruim para a imagem do governo federal, péssimo para a floresta e suas populações tradicionais e terrível para o clima".
A comparação entre os dados do Inpe/Deter e Imazon/SAD mostram discrepâncias: os dados do Imazon para o Pará são maiores do que os do governo federal, enquanto que para o Mato Grosso os números da ONG são bem menores do que os do Inpe. Isso deve ter ocorrido por conta da metodologia empregada por cada um dos institutos e eventualmente por seleção de imaqens de satélite diferentes.
O monitoramento aéreo do desmatamento feito pelo Greenpeace vem documentando grandes áreas de florestas queimadas e degradadas, que perderam sua função ecológica. Muitas delas já estão incorporadas ao processo produtivo - e abrigam gado por entre as árvores mortas. Essas áreas passaram recentemente a ser incluídas pelo Deter em sua análise mensal de desmatamento. Já o Imazon considera apenas o corte raso.
Segundo o Greenpeace, a questão não é discutir quem tem o número mais correto ou a melhor metodologia. O importante, para a sociedade, é dispor de dados mensais mostrando a situação da floresta, para que ela possa cobrar mais ação do governo na punição a crimes ambientais e maior responsabilidade por parte de madeireiros, agricultores e pecuaristas.
(Carbono Brasil, 02/05/2008)