Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) analisaram dez marcas diferentes de rações utilizadas para alimentação de camarões em cativeiro e concluíram que todas elas estão contaminadas por metais como mercúrio e cobre.
A colaboração entre as duas universidades faz parte da Rede de Carcinicultura do Nordeste, uma iniciativa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), do Ministério da Ciência e Tecnologia.
A descoberta foi feita durante um experimento realizado, no âmbito da parceria, no complexo estuário do rio Jaguaribe, no Ceará. O objetivo do estudo, que durou dois anos, era identificar os mecanismos de detoxificação de metais pesados nos camarões cultivados no Nordeste.
O trabalho correspondeu à pesquisa de mestrado de Diogo Azevedo Coutinho, orientada pelo professor Mauro Rebelo, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ.
De acordo com Rebelo, os índices de contaminação não são suficientes para afetar a saúde humana, mas é provável que estejam impedindo o desenvolvimento dos camarões, causando prejuízos aos produtores.
“A concentração máxima de mercúrio admitida pela legislação em pescados é de 500 nanogramas. Encontramos rações com até 140 nanogramas. Nos camarões analisados, encontramos no máximo 40 nanogramas. Mas acreditamos que esse mercúrio é suficiente para impedir o crescimento dos animais”, disse Rebelo à Agência Fapesp.
Os pesquisadores sugerem a hipótese de que os mecanismos biológicos utilizados pelos camarões para eliminar os contaminantes implicam alto dispêndio energético. “O estudo não foi conclusivo quanto a isso, mas achamos que o animal pára de crescer para se descontaminar”, afirmou.
Segundo Rebelo, metais pesados como o mercúrio não têm nenhuma função biológica e, portanto, qualquer concentração deles é indesejável. Por outro lado, mesmo que o mercúrio não seja suficiente para prejudicar a saúde humana, ele compromete a produção de camarões.
“Se levamos em conta que 70% do custo da produção corresponde ao preço da ração, concluímos que o produtor está tendo um imenso prejuízo. Está investindo num alimento que não vai se transformar em biomassa, porque o camarão come e permanece do mesmo tamanho”, disse.
O objetivo mais aplicado das pesquisas, segundo Rebelo, é dar ao produtor de camarão um subsídio para que ele tome decisões gerenciais. “Se constatarmos essa hipótese, o produtor poderá tirar o camarão do viveiro antes do tempo, ou questionar os fabricantes de ração”, declarou o pesquisador.
Rebelo afirmou que os cientistas ainda não desenvolveram nenhum biomarcador para verificar os índices de contaminação, o que daria às empresas de cultivo uma alternativa mais barata que as análises químicas para monitorar a produção. “Mas, com base nos estudos, eles poderão exigir que os fabricantes façam as análises químicas”, disse.
O cientista afirmou que os testes foram realizados em dez marcas e em lotes diferentes de cada uma delas. Todas apresentavam contaminação e havia grande variação de índices entre os lotes.
Segundo ele, isso indica que a contaminação pode vir dos insumos utilizados e não de procedimentos específicos do processso de fabricação. “O principal insumo utilizado na fabricação da ração é a farinha de peixe. É provável que a contaminação venha daí”, declarou.
(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 05/05/2008)