Ex-presidente dos EUA também fez considerações positivas sobre o Bolsa Família
O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton afirmou no evento parte do Fórum de Desenvolvimento, organizado pelo Conselho das Américas e pela Associação das Nações Unidas-Brasil (Anubra) que não "há país no mundo fazendo mais esforços para encontrar o caminho para o desenvolvimento sustentável e para salvar do aquecimento global no planeta do que Brasil".
Em Nova York, disse admirar a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, elogiou a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar classificando-a como mais racional, ao sugerir que a produção a partir do milho seria pouco inteligente, citou o programa Bolsa Família como exemplo de ação social e chamou a atenção do papel central do país com relação à Amazônia. Clinton afirmou que se sente frustrado com "boas intenções sem atitudes concretas" e disse ter esperança que o Brasil faça esta transposição de idéias para ação.
Diante do posicionamento do Brasil sobre as questões de clima e matriz energética, o ex-presidente dos EUA disse à platéia: "pergunto-me se tenho algo a oferecer para vocês". Clinton diz que o melhor que poderia fazer é se oferecer para discutir caso os brasileiros tenham projetos na área e queiram parcerias. Para ele, o mundo será um celeiro de instabilidades se os problemas de mudança de clima no mundo não forem gerenciados.
— Não há dúvida que, quando a questão é etanol, a forma mais racional de produção é com cana-de-açúcar. Converter cereal em etanol ainda é bastante caro — disse o ex-presidente, citando nominalmente o milho e acrescentando também que, no geral, o etanol é 30% menos eficiente que gasolina tradicional.
Aproximação com a Etiópia
Para que o país estenda o conhecimento na área, ele fez uma recomendação: aproximação com a Etiópia. Bill Clinton citou que o país africano já demonstrou disposição para cultivar cana-de-açúcar.
— A demanda por combustível alternativo, que vai de óleo de palma até etanol, complica os esforços do presidente Lula para proteger a Amazônia — reconheceu.
E citou que um desafio ao Brasil é mostrar para o mundo "como preservar recursos naturais de uma forma que realmente funcione e delinear um método para avançar para o transporte pós-petróleo de uma forma que não faça explodir o custo dos alimentos e não leve a mais desmatamento e não comprometa a oferta de água", afirmou.
— Eu tenho passado a minha vida resolvendo problemas e vejo o que vocês estão fazendo. Não sei se conseguiria fazer nem um pouquinho melhor —disse o ex-presidente.
Clima
Para Clinton, há poucos países que vão determinar o que acontece em mudança de clima no mundo.
— Obviamente, China e Índia, porque são grandes e estão crescendo como loucos. Na seqüência, ele citou os EUA, mas disse acreditar que o "Brasil está posicionado para ter a maior influência mundial na questão climática por causa da Amazônia, por causa da reputação na área social e porque é uma economia em crescimento".
Os chineses, segundo ele, estão envolvidos com os desafios locais e "estão intoxicados com o sucesso da moeda" e assim também estão os indianos. Ele afirmou que é preciso pensar não apenas em soluções grandes, "mas também nas coisas que estão na frente de vocês", dando o exemplo do Bolsa Família, "que fez mais pessoas comerem".
Para o ex-presidente, os EUA poderiam ser visto como um parceiro na questão climática, "não importa quem vencer a eleição". Um problema que persiste, advertiu Clinton, é transformar estas credenciais de disposição em ações concretas.
— Acredito que o Brasil pode desempenhar um papel central nisto. Primeiro, pois vocês experimentaram problemas sociais e já têm habilidade na área — disse, e citou que o país foi o primeiro latino-americano a atingir presença "quase universal" das crianças em escolas primárias.
— Isto é uma grande evidência de empreendedorismo social.
Aids
Clinton também citou o Brasil, fora EUA e Japão, como primeiro país a oferecer tratamento universal para portadores de HIV, "por causa da brilhante rede de distribuição (de medicamento)". Ele elogiou a rede de combate à Aids que alcançou "comunidades indígenas, muitas das quais nem falam português".
— Os brasileiros têm provado que quando a questão é desafio social trazem solução para os problemas.
(Zero Hora, 02/05/2008)