Cartão postal de Cachoeira do Sul, a barragem do Fandango não escapa de uma praga comum a todas as represas do Jacuí, a pesca predatória.
Pescar junto às represas é ilegal porque os peixes utilizam a barragem, nadando contra a corrente, justamente para se reproduzir. É a chamada piracema. Colocar redes ali ou mesmo usar varas é crime, porque os animais, muitos deles grávidos, são presa fácil. Pois nada disso — nem os apelos à consciência, nem as ameaças de processo judicial e confisco do material de pesca — impede que dezenas de pescadores se acotovelem nos finais de tarde junto às taipas, a espera das traíras e jundiás.
Alguns pescadores chegam ao requinte de entupir, com pedras, as escadas para peixe - uma espécie de escorregador junto à taipa, no qual os peixes tentam subir para realizar a piracema. Bloqueada a escadaria, as traíras e jundiás ficam presos, à mercê dos seus captores.
Outros dois problemas acometem o Jacuí nas proximidades de Cachoeira do Sul. Um deles é o corte da mata ciliar. Zero Hora viu homens acampados na beira do rio, usando machados para cortar ingazeiros e outras árvores ribeirinhas. Eles pescam ali e, nos intervalos, derrubam mato para produzir lenha. É possível também ver árvores inteiras caindo no rio, por força da erosão. Isso ocorre, basicamente, por dois motivos: ação de draga na derrubada de barrancos e também lavouras que avançam até a beira da água, provocando desmoronamento da terra direto no rio.
— Tem é de botar o Exército ou a Marinha para patrulhar o rio, não tem jeito. Ao invés de treino, eles têm de guerrear em prol da natureza — opina o navegador Milos Schneider, dono de um barco de turismo em Cachoeira do Sul, que tem 69 anos de idade e há 33 sobe e desce o Jacuí, diariamente.
A denúncia de crimes ambientais e, principalmente, a tentativa de convencer as comunidades a não praticar os delitos é atividade cotidiana dos integrantes da Associação Cachoeira de Canoagem e Ecologia (ACCE). Instalada à beira do Jacuí, a entidade reúne jovens remadores que dedicam a maior parte das suas horas de lazer à conscientização sobre os males que atingem o rio. Além de percorrer o rio em caiaques, convencendo pescadores a recolherem suas linhas junto às taipas ou retirando redes com malha de tamanho inferior ao permitido, os associados da ACCE têm plantado árvores. Muitas. Só este ano foram 1,5 mil mudas, a maior parte junto ao Jacuí. Levam junto crianças, a melhor maneira de estimular adultos a evitarem a morte do rio.
(Zero Hora, 03/05/2008)